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sábado, 22 de outubro de 2016

O HOMEM-BOMBA QUE PODE DERRUBAR A REPÚBLICA

Por Nilson Borges Filho (*)
A operação da Polícia Federal, com agentes fortemente armados e com os rostos cobertos,  que  conduziu o ex-deputado Eduardo Cunha ao IML de Curitiba para os exames de corpo delito demonstra o grau de letalidade do preso. Não são poucos os políticos, empreiteiros, banqueiros, funcionários públicos e larápios em geral que gostariam de ver morto o meliante do dinheiro público. Eduardo Cunha se iniciou no crime bem antes de se falar em mensalão e lava-jato. 
Homem de fé fervorosa, Cunha consegue fazer parte de duas igrejas evangélicas, sem nenhum pudor, servindo a bispos distintos e pastores de plantão. Transitava nas duas igrejas como se estivesse na cozinha de sua casa com sede em luxuoso condomínio da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Elegeu-se deputado por vários anos sempre se posicionando como aquele que seria o nome mais palatável do PMDB para buscar financiamento de campanha para si e para o partido. De passagem conseguia distribuir polpudas quantias em dinheiro para políticos de diversos partidos se elegerem.
Muitos dos que estão lá na Câmara ou em Prefeituras  ou, ainda, em assembleias legislativas, dos mais diversos paridos, devem seus mandatos àquela ajuda do deputado fluminense.  Aqui introduz-se um mero detalhe: o dinheiro que Eduardo Cunha arrecada tinha sua origem em traficâncias de influência junto a órgão públicos em consequência de interesses privados. Assim que o ex-deputado construiu uma extensa carreira parlamentar e igualmente uma extensa ficha criminosa. Detentor de um patrimônio invejável, Cunha e família frequentavam hotéis e restaurantes luxuosos no Brasil e no exterior, deliciando-se com vinhos de safras premiadas.
Como todo cafona, prestava-se a ser fotografado nesses ambientes para constar de colunas sociais e blogs de cultura inútil. Já a jornalista Claudia Cunha, segunda mulher do ex-deputado, apresentadora de jornais de televisão, tinha uma certa predileção por joias de grife, bolsas Chanel e sapatos de estilistas estrelados. Nos shoppings americanos ou nas lojas dos  bulevares franceses, Cláudia fazia a festa nas araras das maisons mais chiques da capital francesa. 
Para Cláudia Cunha, Paris era uma festa. E como toda mãe se projeta na filha, a mais velha do casal também fazia a sua farrinha nas lojas com o dinheiro fácil do papai sabichão.
Mas veio a lava-jato e no caminho de Eduardo Cunha, agora presidente da Câmara Federal, surgiram delatores frouxos, investigadores competentes, policiais federais e procuradores da República de primeira linha e para infernizar mais ainda a vida dos assaltantes dos cofres públicos, o juiz federal Sérgio Moro da Justiça Federal do Paraná.
Comendo pelas bordas os auditores ficais da Receita Federal que apoiam os investigadores com o prontuário fiscal dos fora-da-lei da lava-jato. Hoje Cunha dá expediente numa cela da PF do Paraná, preso por decreto do juiz Sérgio Moro, depois de uma extensa e valiosa investigação dos órgãos federais. Dorme numa cama de cimento, faz suas necessidades no “boi” e toma banho frio. As refeições no restaurante do Hotel Ritz foram substituídas por quentinhas patrocinadas pelo contribuinte. A madame, adepta das maisons luxuosas esconde-se como pode, pois corre o risco de sofrer alguma intimidação. Trocou os salões de beleza caros por aquela manicure de bairro. Fazer shopping – como se expressam as madames sacudidas quando vão às compras - nem pensar. 
Cunha, o letal, já trata com seus advogados como conduzir a delação, quem entregar, o que devolver aos cofres públicos e o tamanho da pena, com um único objetivo: tentar livrar a mulher e filhos da bandalheira que protagonizou. 
Próximos do ex-deputado alegam que a munição de Eduardo Cunha, documentos e áudios, será arrasa quarteirão. Gente do governo, políticos de diversos partidos, empreiteiros, banqueiros, doleiros, funcionários públicos e lobistas entrarão para o rol dos suspeitos. Não será surpresa se a cúpula do PMDB e da atual República caírem nas mãos dos investigadores federais. Os estilhaços atingirão gente que posa de honesta no Senado Federal. 
(*) Nilson Borges Filho é mestre, doutor e pós-doutor em Direito. Foi professor da UFSC e da UFMG


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