Estamos vivendo tempos em que o fígado se tornou o principal órgão de pensamento. Em passado remoto, considerava-se ser o coração… O que é melhor? Tenho uma proposta revolucionaria: o cérebro.
Querem saber o que achei da indicação de Luciana Lóssio para o Tribunal Superior Eleitoral? Pois não! O arquivo está à disposição. Vejam ali a lupinha no canto superior esquerdo da página. É só botar o nome da ministra e apertar o “Enter”. Ou clicar na lupa.
Ocorre que, para avaliar se uma decisão oficial está correta ou não, eu me abstenho de proceder a um julgamento político ou moral de seu autor. Primeiro consulto a lei. No dia em que eu optar por ser líder de torcida, mudo de profissão.
Vale dizer: quando critiquei Luciana aqui, eu o fiz não porque se chame “Luciana” e tenha sido advogada de Dilma. Eu o fiz porque não gostei de sua decisão. Se, no entanto, ela faz a coisa certa, então digo: “Fez a coisa certa!”.
E ela fez, não é?, ao determinar que Anthony Garotinho fosse enviado ao hospital, obedecendo, diga-se, a uma avaliação médica. Ao conceder a limitar para que Garotinho fosse enviado ao hospital, Luciana observou que o princípio da dignidade da pessoa humana, previsto na Constituição Federal, “é o marco civilizatório no qual se assenta o Estado Democrático de Direito, e é sempre com vistas a esse primado que o direito deve ser aplicado aos casos concretos”.
A ministra lembrou, e com razão, que não cabe à autoridade judiciária avaliar o quadro clínico do preso, tal como fez o juiz Glaucenir Silva de Oliveira, do TRE-RJ, que, escreveu ela, “assim procedeu sem qualquer embasamento técnico-pericial por parte de equipe médica regularmente constituída, atitude, a meu ver, em tudo temerária, ante o risco de gravame à integridade física do custodiado”.
Pois é… Luciana estava obviamente certa. O juiz, que decidiu ignorando o que diziam os médicos, estava obviamente errado.
O ex-governador foi submetido a uma cirurgia cardíaca no hospital Copa D’Or neste domingo para desobstruir uma artéria, que recebeu um stent, uma espécie de prótese.
Dada a forma como o debate é feito hoje em dia em certos círculos, as pessoas têm todo o direito de achar que, dado tudo o que Garotinho fez, ele tem mais é de morrer na cadeia e que o juiz fez muito bem em fazer ele próprio a avaliação médica. Bem, seja com Garotinho ou com o Zé da Esquina, a gente deve se perguntar se é esse o Estado que queremos.
A minha resposta é simples: não é o Estado que eu quero. Nem para o Garotinho nem o Zé da Esquina.
Não creio que Garotinho tenha pedido a seus médicos que o submetessem a uma cirurgia cardíaca só para posar de vítima ou para não voltar tão cedo para Bangu.
A ainda estranha história do suborno
Há mais sobre esse caso. A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio agora está acusando Garotinho de ter tentando subornar o juiz Glaucenir. Vamos ver. A defesa do ex-governador nega. Suponho que o juiz tenha alguma prova além do mero testemunho. Até porque, sendo assim e com a autoridade que tem, o magistrado dispunha de todas as condições de armar um flagrante. Em casos assim, a Polícia Federal está aí para isso mesmo.
Acompanhemos a questão atentamente. Não estou dizendo que seja o caso necessariamente, mas cumpre que fiquemos vigilantes. Há um certo clima de vale-tudo em determinados nichos que reúnem candidatos a heróis nacionais.
Ponham uma coisa na cabeça: ou se escolhem as leis da democracia ou se escolhe a barbárie. O meio termo entre uma coisa e outra ou é um pouco menos de lei e um pouco mais de… barbárie.
Para encerrar
A minha opinião sobre a decisão de Luciana não é oportunista, agora que sei que Garotinho foi submetido a uma cirurgia. Para eliminar essa eventual suspeita, assistiam ao vídeo abaixo, entre 38min25s e 42min25s. Verifiquem o que eu disse na sexta-feira, no programa “Os Pingos nos Is”.
E afirmei a mesma coisa, também na sexta-feira, do comentário que faço todos os dias no jornal “RedeTV! News”.
Assim, o que faço aqui é apenas reafirmar a opinião que externei imediatamente após a decisão de Luciana Lóssio.
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