Pois é… O Ministério Público Federal pautou a direita inteligente como uma porta, e esta comprou a tese de que estaria em curso uma perigosa operação para anistiar “os políticos”. E, assim, inventou-se esta categoria detestável, que, como sabemos, foi justamente banida por todas as ditaduras virtuosas do mundo: “os políticos”. Do tirano de Siracusa a Nicolás Maduro, passando por figuras um tanto mais robustas, todos eles consideravam detestáveis os “políticos”. O lugar dessa gente, em princípio, é a cadeia. E aqueles que não merecerem esse destino que tratem de provar a sua inocência. Ou por outra: com políticos, a única presunção aceitável é a de culpa.
É assim que se faz um pais justo, certo?
Assim se fez a China. Assim se fez a União Soviética. Assim se fez Cuba, do companheiro Fidel (choremos todos, junto com os jornalistas!). Assim se fez a Coreia do Norte. Assim se faz na Arábia Saudita. Políticos pra quê? Pra enfiar a mão no nosso bolso?
Afinal, como disse Ana Júlia, aquela jovem militante petista, “se a escola é nossa, a gente pode ocupar”. Ocupar, no caso, quer dizer “invadir”. E, se o Brasil é nosso, ora bolas, podemos também pedir a prisão dos “políticos”. De todos. De todos os partidos. Somos o povo. Não é porque Mussolini pensasse assim que isso está errado. Não é porque Mao Tse-Tung pensasse assim que isso está errado.
Fora Temer!
Certamente, o PT tem a sua contribuição a dar à moralidade, né?
Certamente, o PSOL tem sua contribuição a dar à moralidade, né?
Certamente, o MTST tem a contribuição a dar à moralidade.
E também a Frente Povo Sem Medo.
Bem, dizer o quê? Alguns malucos até tentaram a anistia. Sempre foi uma impossibilidade jurídica. Basta ouvir quem entende do assunto. Mas a extrema esquerda aproveitou para surfar na onda da direita inteligente como uma porta.
Neste domingo, Guilherme Boulos liderou um protesto contra a anistia ao caixa dois (aquela que nunca existiu) e contra a PEC dos gastos. E os esquerdistas gritaram “Fora Temer”, como, parece, ensaiam ou ensaiavam fazer alguns “legalistas do impeachment” no próximo dia 4 de dezembro. Li declarações assombrosas.
O MTST diz ter reunido 40 mil pessoas. É claro que não! Nem a pau, Juvenal! Mas sabem como é… A turma está vendendo seu peixe. Mandaram-me links neste domingo de páginas de esquerda. Pedem o engajamento da turma no dia 4, naquela manifestação que, até onde sei, tinha sido marcada para protestar contra a anistia — a inexististe. Agora, além de inexistente, ela também é impossível, dada a entrevista de Michel Temer, Rodrigo Maia e Renan Calheiros. Não sei se ainda haverá protesto. Será preciso arrumar uma causa nova. Os esquerdistas não encontrarão nenhuma dificuldade.
Leio na Folha:
“O início do protesto teve show do cantor Chico César. Guilherme Boulos, da coordenação nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), e Carina Vitral, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), fizeram discursos contra Michel Temer, a proposta de anistia ao caixa dois, a PEC do teto e a reforma do ensino médio.”
Cansei de ouvir algumas análises canhestras, segundo as quais a direita pegou carona nos protestos de 2013 liderados pelas esquerdas — afinal, de fato, elas estavam no comando… Vai ver é chegada a hora, agora, de fazer o contrário, né? Gentilmente, a direita inteligente como uma porta se abre para a esquerda. Será um momento lindo!
Assim, quando um representante do PSOL do PCdoB ou do PT tomar a palavra, é bom que a gente saiba: ali está alguém que fala em nome de um Brasil melhor. Aquele, sabem?, que eles vinham fazendo…
Pelo visto, a gente ainda tem muito a aprender com a direita inteligente como uma porta.
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