“A esquerda só se une na cadeia”. Essa é uma máxima antiga de esquerdistas, que circulava inclusive durante a ditadura. Tratava-se de uma ironia com as múltiplas correntes em que sempre se dividiram os esquerdistas. Cada grupelho, ainda hoje, reivindica sua superioridade teórica e a eficácia de suas táticas. Isso chegou ao estágio da loucura quando a luta contra o regime militar degenerou em terrorismo. Celerados de várias correntes até se uniam numa determinada operação — um sequestro, por exemplo —, mas logo se distanciavam, cada grupelho com a cara enfiada em seus próprios equívocos.
O PT, vamos ser claros, mudou um pouco isso, né? Esquerdistas continuam a se encontrar na cadeia. Mas agora não mais em razão de ações, terroristas ou não, de viés político. Desta feita, é roubalheira mesmo. Lá também estão empresários e lobistas que fizeram parte da arquitetura criminosa.
O partido, como vocês viram, foi esmagado nas eleições deste ano. Teve um desempenho semelhante ao de um partido nanico. Suas principais lideranças estão na cadeia ou sob forte investigação, sentindo já o cheiro que vem ou da Papuda ou da carceragem de Curitiba. Ora, nessas horas, os tais “intelectuais” resolvem participar do debate.
Publiquei à tarde um post com esta informação. Releiam. Volto em seguida:
A Folha informa que um grupo de ditos intelectuais de esquerda vai lançar, nos próximos dias, um movimento chamado “Quero Prévias”. Liderados por alguns professores universitários, entre eles o cientista político Marcos Nobre, da Unicamp, eles já têm até data para o lançamento do manifesto: será no dia 8 de novembro. A ideia é mobilizar a esquerda e organizar a realização de prévias para a escolha do candidato presidencial em 2018. Para o grupo, a derrota nas eleições municipais demonstra a necessidade de ampliar o debate antes da escolha do principal nome da esquerda na próxima disputa. A proposta é que não filiados a partidos políticos também participem dessas prévias. Que divertido! Uma coisa típica das heterodoxias teóricas de Nobre. Olhem que fabuloso: nem as tendências internas do PT se entenderam, mas o professor já quer saber quem será o candidato da esquerda unida. A propósito: não conviria à esquerda primeiro se unir? E quem decide isso? Os professores universitários?
Voltei
Pode até parecer que esses tais “intelectuais” representam a vanguarda modernizadora das esquerdas. Já que os “antigos” e “pragmáticos” fizeram tudo errado e enfiaram o pé na jaca, então viriam agora os puros e honestos para tentar fazer um trabalho de depuração e resgatar algumas verdades essenciais, conspurcadas pelos outros.
Ouso dizer que isso é ainda mais velho do que aquilo. Por que Marcos Nobre não propôs que esquerdistas dialogassem entre si e buscassem a unidade quando estavam no poder? Bem, não era necessário, certo? Afinal, cada um com sua identidade.
Agora, diante da derrocada, eis que ele se lembra que pode existir uma essência comum a todas essas correntes, o que permitiria criar, então, uma frente ampla. E por que ela seria necessária? A resposta está na ponta da língua: em razão da chamada “guinada conservadora”, da “ascensão da direita”.
Ocorre que essa é uma das fantasias mais mentirosas e picaretas do universo mental esquerdista. Essa unidade “do lado de lá” — ou “de cá” — nunca existiu. Trata-se de uma falácia que serve para alimentar a pregação de mistificadores. Nobre e seus amigos supostamente renovadores são ainda mais atrasados que o pragmatismo sindical petista. Ao defender uma “Frente Ampla”, em razão da tal essência comum, supõe-se algo semelhante também “do lado de lá” (que é o de cá).
E quais seriam essas essencialidades? Ora, “eles” seriam os que se interessam por justiça social, pelo bem, pelo belo e pelo justo, e nós — é claro! — gostamos do contrário: lutamos por mais desigualdade, pelo mal, pelo feio e pelo injusto.
Tomara que Nobre e seus amigos sejam bem-sucedidos. Essa é a boa esquerda. Nunca vai conseguir enganar ninguém. Será sempre minoritária. E tudo aquilo de que um país precisa é ter esquerdistas na oposição. Eles são um perigo é no governo.
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