E Geddel Vieira Lima chorou.
As pessoas se emocionam pelos motivos os mais estranhos às vezes. Esse é o caso. Ele resolveu transformar numa questão de governo a compra de um apartamento e suas afinidades com o incorporador, pressionou outro ministro de Estado e, vendo-se exposto, caiu em lágrimas. O que provocou a solidariedade, leio agora, de seus pares.
Com a devida vênia, não é a primeira vez que Geddel chora em público. E sempre por maus motivos
O deputado recebeu manifestações de solidariedade de líderes da base. A fala mais significativa foi de Jovair Arantes (GO), líder do PTB, que quebro em miúdos — a fala, não o Jovair. Referindo-se a Mercelo Calero, disse:
“Isso é um absurdo o que aconteceu. Precisa dar piti? Por que a palavra do ex-ministro tem mais força que a de Geddel? É uma conversa natural, existente entre políticos. Em qualquer parte do país, político é demandado. O assunto se encerra quando você diz ‘não'”.
Estamos feitos. Rodrigo Maia (DEM-RJ) quer concorrer à Presidência da Câmara contra a letra explícita do Regimento. Jovair é candidato a seu rival.
Um deputado que pleiteia a Presidência da Câmara acha que absurdo é alguém reagir a um assédio daquela natureza, não o assédio em si. Mais: no seu mundo, isso é muito natural. Para ele, política é isto mesmo: SER DEMANDADO. Mesmo quando as demandas não atendem ao interesse público.
Se o caso vem a público, ele chama de “piti”, e, tudo indica, emprega essa palavra porque Calero, como todo mundo sabe, é gay. Mas, se é para ficar nos termos desassombrados de Jovair e numa linguagem que ele certamente entende, vamos ser claros: foi macho o bastante para botar a coisa na mesa. Os governos precisam de outros machos como Calero, não de gente como Jovair, que não daria piti.
A ilação de Jovair tem desdobramentos lógicos:
a: segundo ele, bastaria a Calero ter dito “não”. MAS NINGUÉM DEVERIA TER SABIDO;
b: ocorre que, se Calero tivesse dito “sim”, NINGUÉM, OBVIAMENTE, SABERIA.
Para ele, a política se move nas sombras.
Essa é a República dos compadres, dos companheiros, dos iguais entre si — que é tudo aquilo que o povo já deixou claro que não quer nas ruas. Do ponto de vista dos valores, depôs um governo por isso.
O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), foi um pouco mais ponderado, mas também restam considerações importantes a fazer. Ele reconheceu que Geddel se comportou mal, que encaminhou uma questão de interesse pessoal, mas comete um erro quando diz que “uma questão cartorial” não pode levar um ministro à demissão.
O argumento é ruim. Se quiserem um razoável, eu forneço, sem ferir a ética: “Prevaleceu a decisão técnica. Geddel é importante na articulação política, cometeu um erro, já reconheceu o comportamento inconveniente e merece um voto de confiança”.
OCORRE QUE GEDDEL NÃO RECONHECEU O ERRO!
Aí vem essa conversa, que também se ouviu de Moreira Franco, ora repetida por Pauderney: “Eu não acho que foi uma atitude adequada, mas temos problemas enormes para resolver no país”.
Sempre teremos problemas enormes no país. E estes serão “menos enormes” se os homens públicos não misturarem seus interesses com os do Brasil e se pararem de agir base do compadrio;
Ou os problemas ficarão, como cantou Tom Jobim, “enormes demais”.
Caça aos políticos
Está em curso um movimento de caça aos políticos e à política. Seus principais agentes hoje em dia são os membros do Ministério Público Federal. Por eles, a política se transforma numa repartição da polícia, e eles, claro!, serão os policiais. E com plenos poderes, sem lei que lhes limite a ação.
Tenho resistido a essa investida autoritária — e isso nada tem a ver com combater ou não a corrupção —, mas, em momentos assim, a gente é tentado a entrar no coro fascistoide contra… a política e os políticos, não é mesmo?
Sim, resisto, porque jamais permito que um cretino paute o meu pensamento. Mas que esses caras não estão entendendo nada, ah, isso não estão!
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