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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Com o presentão que Janot deu a Dilma, Renan percebeu que está prestes a entrar na mira. Operação busca desmoralizar PMDB como alternativa a petista

 

Bem, bem, bem… Quem acompanha o jogo político de Brasília de muito perto, lá de dentro mesmo, assegura que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, estava, sim, irritado com o que considerou estardalhado da dita fase “Catilinárias” da Operação Lava Jato (um nome infeliz, já expliquei por quê), mas não estava nem surpreso nem perplexo. Até, ao menos, que a corda não arrebente, Cunha trata cada investida de que é alvo como a prova dos noves de que estava certo e de que sempre houve uma conspiração contra ele a unir Palácio do Planalto e Rodrigo Janot.

Perplexo de verdade, surpreso pra valer e, mais do que irritado, furioso, aí quem estava era Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Desde que fechou um acordão com o Planalto, ainda na reta final da avaliação que fez o TCU das contas do governo, Renan vinha se julgando imune às investidas da Lava-Jato. Quando teve as suas conversas de cúpula no Palácio do Planalto, saiu com a certeza de que era um aliado.

E vinha se comportando com uma subserviência altiva realmente encantadora. Altivez subserviente, leitores, é um estilo que demanda alguma dificuldade. Pede do ator algum preparo, um certo treino. Todos vimos, no fim de semana passado, Renan a sugerir que uma comissão do Senado poderia simplesmente recusar o processo contra Dilma. Tratava-se, obviamente, de uma invenção. É claro que não pode. O caput do Artigo 86 da Constituição não deixa. Lá fica evidente que o Senado, nessa matéria, não tem “querer”.

Renan também fez eco à gritaria do governo e prometeu manobrar com a Lei de Diretrizes Orçamentárias para impedir o recesso do Congresso. Apresentava-se como a âncora de Dilma…

Nesta terça, viu-se tragado pela tal fase “Catilinárias”. Parece que a Lava-Jato o meteu entre os aliados de Catilina, o Cunha dessa história, contra a destruição da República, não é? Justo ele! Tão bonzinho com o governo! Tão compreensivo! Tão altivamente subserviente. Renan concluiu, com o poeta, que, dada a forma como trabalha a petezada, a única firmeza está na inconstância. O ministro Teori Zavascki não autorizou busca e apreensão na casa e no escritório de Renan, mas três aliados seus e um agregado passaram por constrangimentos. Contra Renan, há nada menos de seis inquéritos. Caiu a ficha! O senador descobriu que não está blindado. Tão logo Cunha se encontre com o seu destino, ele entra na fila.

Coincidências não existem
É claro que, nesse universo, coincidências não existem. Na lista dos políticos engolfados pela fase Catilinárias, há até um ex-ministro do PSB (Fernando Bezerra) e um deputado do Solidariedade (áurio Lídio, RJ), mas não é preciso ser muito sagaz para concluir que o alvo é o PMDB. E que a coisa estoura um dia antes de o Supremo decidir o rito do impeachment e de as esquerdas irem às ruas em defesa de Dilma. O nome da operação poderia ser mais extenso, assim: “Vocês acham que o país pode ser governado pelo PMDB? Então vejam aí”.

rodrigo Janot é, sem dúvida, o mais esperto dos procuradores-gerais que passaram pelo cargo em muitos anos. Também ele, com mais discrição do que Renan, consegue exercitar a subserviência altiva. Esse homem é um prodígio e merece um estudo de caso. Pensem na natureza do petrolão e vejam a que partido pertencem os políticos mais enrolados. Pensem na natureza do petrolão e depois olhem a razia que o MPF produziu nesta terça no… PMDB!  Ora, o que se tem aí é uma advertência: “Ah, vocês querem Michel Temer? Esse é o PMDB, ó… Vocês vão ver”.

Um tonto logo indagaria se estou sugerindo que MPF e PF deixem de fazer o seu trabalho para não dificultar a transição do governo Dilma para o governo Temer. Eu não! Como sempre, só estou sugerindo que a medida da eficiência que tem o MPF com Eduardo Cunha seja empregada também nos outros casos. Ora, contra Lula, reitero, não há nem um inquérito. Tenham paciência! Essa foi, sem dúvida, pelo timing, a mais vistosa colaboração de Janot contra o impeachment.

Nesta quarta, os manifestantes do MCTO — Movimento dos Com-Tetas Oficiais  — poderão bradar todo o seu ódio contra os peemedebistas, enquanto assegurarão a inocência de Dilma, a lisura de sua administração, as multiplicas conspirações que estariam em curso contra um governo operário…

Ocorre que as coisas são um pouco mais complicadas do que parecem à primeira vista. Se a investida contra o PMDB busca desmoralizar o partido como alternativa de poder, é evidente que também contribui para unir correntes que haviam se distanciado em função, justamente, da interferência do governo. Já afirmei e estou convicto disto: Dilma estaria melhor sem esse presentão de aniversário de Janot. É o tipo de mimo que sai pela culatra.



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