Vejam vocês como a é possível fazer abordagens diferentes tendo em mãos os mesmos números, né? Leio da Folha de hoje o seguinte título: “Grupo anti-Dilma não é otimista com Temer”. O que fez o jornal chegar a essa conclusão? Entre os que foram entrevistados na Avenida Paulista no domingo, na manifestação em favor do impeachment, 19% acham que, se o vice se tornasse titular, ele faria um governo ótimo ou bom; para 28%, seria “ruim ou péssimo”, e 47% disseram que seria regular. Como não é possível dizer que isso caracteriza uma expectativa pessimista, então se opta pela negativa: “não é otimista”.
O meu lead seria outro, claro! Vai ver é porque eu sou favorável ao impeachment. Eu escolheria um outro número da pesquisa. Vejam:
72% disseram que governo Temer seria melhor do que o de Dilma;
21% disseram que seria igual;
4% disseram que seria pior.
Eu não tenho dúvida de que um lead e um título corretos da matéria sobre a pesquisa Datafolha deveriam dar destaque à expectativa de um governo MELHOR do que o da Dilma, ainda que o manifestante não espere nada espetacular porque burro não é.
Na verdade, lendo a pesquisa Datafolha, cheguei à conclusão de que as pessoas que foram às ruas são mesmo bacanas: para começo de conversa, elas sabem que milagres não existem. Notem que a maioria relativa dos que acham que o governo seria apenas regular se aproxima dos 50%. Ora, é evidente que os problemas existem. Quase 30%, esses sim, são realistas à beira do pessimismo. Eu mesmo, se fosse indagado, talvez estivesse nesse grupo. Eu não defendo o impeachment porque ache que Temer pode operar prodígios. Eu defendo o impeachment porque acho que Dilma cometeu crimes de responsabilidade.
Há outros dados que evidenciam que o cara que foi pedir impeachment é mesmo bacana: nada menos de 91% são a favor da cassação de Educado Cunha. Logo, quem pretende transformar o impedimento de Dilma numa obra de Cunha está, por óbvio, mentindo também no mérito político, não apenas no técnico.
Aí o petista grita: “Veja lá: 84% votaram em Aécio Neves…” E daí? Sei que os companheiros sempre sonharam com um regime sem oposição. Mas não chegaram lá. E não chegarão.
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