A Operação Lava Jato teve deflagrada uma nova fase, a Catilinárias — mais um nome absolutamente impróprio, digo depois por quê — e, é visível, busca atingir em cheio o PMDB. O estardalhaço acontece um dia antes de o Supremo decidir o rito da tramitação da denúncia que pode resultar no impeachment de Dilma e também na véspera do protesto das esquerdas em defesa da presidente e contra o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que preside a Câmara.
O presente que Dilma recebe de Rodrigo Janot, um dia depois de seu aniversário, no entanto, pode sair pela culatra. Mais uma vez, Cunha é o centro da vistosa operação, mas ela atinge muitos outros peemedebistas.
Vamos ver. Como se sabe, Cunha foi o alvo principal, com mandados de busca e apreensão em suas casas de Brasília e Rio. Mas Renan Calheiros (PMDB-AL) também estava na mira. No seu caso, Teori Zavascki rejeitou o pedido, mas Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, e o deputado Aníbal Gomes (CE), foram alvos da ação da PF. Os dois são homens de inteira confiança de Renan.
Sobrou para peemedebistas de todos os matizes: o senador Edison Lobão (MA), ligado a José Sarney, está na lista, bem como o ministro da Ciência e Tecnologia e o do Turismo, respectivamente Celso Pansera (RJ) e Henrique Eduardo Alves (RN). O primeiro se tornou parceiro do deputado Leonardo Picciani (RJ), e o segundo é tido como mais próximo de Michel Temer. Nelson Bornier, prefeito de Nova Iguaçu, entrou na dança. A mesa antes ocupada por Flávio Cleto, que comandava as Loterias da CEF, foi visitada pela PF. Os dois são homens de confiança de Cunha. Até Denise Santos, chefe de gabinete do presidente da Câmara, virou alvo.
Ora, à medida que, mais uma vez, aquele que é apontado como o algoz de Dilma, aparece desse modo no noticiário, é evidente que, de imediato, a mandatária colhe, vamos dizer, alguns eflúvios positivos. Mas que logo se dissipam. E por quê?
Espalhou-se no PMDB a convicção de que, mais uma vez, o Palácio opera para desmoralizar o partido e para intimidar a legenda. Nove entre dez peemedebistas acreditam que Rodrigo Janot opera em parceria com o Planalto. Afinal, dizem, tudo o que a Dilma quer é que se espalhe a versão de que, se está ruim com ela, será pior sem ela, já que o PMDB não passaria de um valhacouto.
Se é verdade ou não, a esta altura do campeonato, pouco importa. O fato é que o episódio pode servir para unir peemedebistas ainda recalcitrantes, juntando-os à tropa que defende o impeachment de Dilma. Digamos que a presidente poderia ter passado sem essa ajudazinha.
A ninguém escapa que, a cada dia, Temer se consolida mais e mais como alternativa de poder. Ora, à medida que uma operação como essa bate em cheio do PMDB, parece que se quer dizer à população algo assim: “Esse partido não é a saída”. Por esse caminho, o Planalto poderia comemorar.
Ocorre que há um rito do impeachment — qualquer que seja a decisão do ministro Edson Fachin — que passa pelos parlamentares. A esta altura, um PMDB acuado pode escolher o caminho da retaliação. E eu acho que vai.
Convenham: depois das “Catilinárias”, o PMDB se torna o principal alvo da Lava Jato. E é evidente que, a despeito do eventual banditismo de seus integrantes, isso é uma piada. O petrolão é e sempre foi uma obra petista.
PS – Essa fase da operação tem ainda como alvos as seguintes pessoas:
– O deputado Áureo Lídio (SD-RJ);
– Fernando Bezerra Coelho, do PSB (PE);
– Aldo Guedes, ex-sócio de Eduardo Campos;
– Lúcio Bolonha Funaro, delator do mensalão;
– e Altair Alves Pinto – emissário de propina de Cunha, segundo os investigadores.
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