Os dias nunca foram tão propícios para a mistura de alhos com bugalhos. E, em momentos assim, a chance de que se faça a escolha errada, porque é sempre a mais fácil de entender, é gigantesca.
Durante a 23ª Fase da Operação Lava Jato, apreenderam-se planilhas com os respectivos nomes de mais de 200 políticos, de 18 partidos. Elas traziam o registro de doações eleitorais feitas pela Odebrecht. Estavam em um dos endereços de Benedicto Barbosa Júnior, o BJ, um dos diretores da empresa.
Os valores se referem a doações feitas nas eleições de 2012 e 2014. Há, como se espera, uma penca de políticos da base governista lá, mas também contam da relação nomes da oposição, como os tucanos Aécio Neves e José Serra e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Os documentos não foram examinados ainda pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. Não dá para saber se:
a: são doações legais ou ilegais;
b: se a doação foi efetivamente feita em todos os casos;
c: ainda que feita e na hipótese de o candidato não tê-la registrado, se o dinheiro não foi transferido para o partido para que este doasse ao candidato.
Com o fim do sigilo de todos os documentos, a lista se tornou pública. Só agora, depois de estar circulando em todo canto, o juiz Sérgio Moro decretou o sigilo da investigação. Bom, para efeitos da boataria, a Inês é morta, certo? E mais de 200 políticos estão sob suspeição, embora não se tenha investigado ainda coisa nenhuma.
Adivinha quem está batendo bumbo nas redes sociais, sorrindo de orelha a orelha? Acertou quem respondeu: “Os petistas”. Sim, eles não veem a hora de decretar que todo mundo e igual e que, portanto, eles não fizeram nada demais.
Algumas questões interessantes para o leitor pensar.
1: De fato, a lista evidenciou que a Odebrecht talvez seja a maior financiadora de campanhas do país. Se o fizesse dentro da lei, não haveria, em si, mal nenhum nisso. Mas, como confessa a sua própria nota, tornada pública ontem, não e assim.
2: O documento não estava no arquivo do tal departamento de “Operações Estruturadas”, que, segundo os investigadores, respondia pela contabilidade das operações ilegais da Odebrecht.
3: mais interessante de tudo: Dilma disputou a eleição em 2014, e seu nome não está lista. Mas está lá o de Demóstenes Torres, cassado em 2012. E, por óbvio, não disputou aquela eleição nem a seguinte.
Vamos pôr um pouco de ordem na bagunça.
Caixa dois em campanha eleitoral é crime, e tem de haver punição. Assim, se for o caso, que se puna, então. Mas convém ficar atento à sem-vergonhice a que os petistas já deram início.
Venham cá: tanto mensalão como petrolão são apenas casos, com o definiu o patriota Delúbio Soares, de “recursos não-contabilizados” de campanha? Vamos cair nessa esparrela e nessa mentira?
Então um plano arquitetado para assaltar o Estado de Direito, para fazer do Estado brasileiro mero quintal de manobra dos interesses petistas, que se espraia por todos os entes públicos e afins — fundos de pensão, por exemplo —, será agora reduzido à mera dimensão de um problema de financiamento de campanha?
Ainda que todos os políticos que estão na lista tenham recebido dinheiro do caixa dois, é essa lista que evidencia a natureza do petrolão? Que favor Aécio, Serra, Jarbas Vasconcelos ou Raul Jungmann poderiam fazer à Odebrecht?
Eis aí um bom caminho do desvirtuamento. E não se trata de poupar este ou aquele para condenar o PT, mas de entender a natureza do jogo.
Para fazer terror
A lista está servindo para fazer terrorismo. Os petistas agora estão espalhando pelos quatro cantos que, caso Dilma caia, ela será apenas a primeira; que a divulgação da lista, sem investigação nenhuma, é parte da estratégia de Sérgio Moro e do MP para desmoralizar a política e os políticos; que ou todos se salvam, ou todos morrem abraçados. E vai por aí.
Ou por outra: a divulgação da lista, sem nenhum critério, está servindo aos interesses dos que pretendem assar uma enorme pizza.
E não se enganem: o jogo vai ser a cada dia mais complexo. Os petistas estão mais felizes hoje do que estavam ontem.
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