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quarta-feira, 23 de março de 2016

A DELAÇÃO DA ODEBRECHT, o ladrão individual e os ladrões que integram um sistema

O que dirão os diretores da Odebrecht, incluindo o presidente do grupo, Marcelo, agora que todos decidiram fazer a delação premiada, chamada pela empresa de “colaboração”? Ninguém sabe. Em nota, a grupo diz que pretende colaborar com o Brasil e exibe seus propósitos de contribuir para a evolução institucional do país. Então tá.

Um trecho pode despertar calafrios em muita gente, a saber:
“Apesar de todas as dificuldades e da consciência de não termos responsabilidade dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato — que revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país —, seguimos acreditando no Brasil.”

Esta sequência — “sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário eleitoral do país” —, como se nota, não tem alvo preciso. Pode abarcar, em tese todos os partidos. Notem: em boa medida, o futuro do Brasil depende dessas revelações.

Logo de cara, é preciso fazer uma distinção que talvez venha a fazer diferença no futuro. Que o PT não tenha inventado a corrupção, isso já se escreveu aqui muitas vezes. Eu até brinco que foi a serpente que iniciou tal prática, não é? Refiro-me àquela do Paraíso, não à nossa jararaca, cuja cabeça pode logo ser esmagada.

Tanto a Odebrecht como qualquer outra empreiteira podem ter feito doações ilegais ou pagado propina a membros de outras legendas, inclusive da oposição. E as pessoas que foram beneficiárias das práticas ilícitas terão de pagar por isso. Fim de papo. Não custa lembrar: quem tem bandidos pra chamar de seus, exaltando-os como “heróis do povo brasileiro”, é o PT. Nós, felizmente, não temos. Quem fez que pague.

Ocorre que o petrolão não revelou apenas um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento de campanha. Fez-se bem mais do que isso, não é mesmo?

Ainda que, inicialmente, a prática de, digamos, pegar uma percentagem do valor da obra tivesse o propósito de financiar campanhas, é evidente que assistimos ao nascimento de um método, de um modo de governar, de um jeito de entender o Estado brasileiro.

Não fazer essa distinção corresponde a negar a natureza daquilo que está em curso. Que políticos aqui e ali vivam recebendo dinheiro do caixa dois de empresas, convenham, todo mundo sabe. Que um ou outro não passem de meros lobistas informais a serviço de patrões ocultos, que não são exatamente o povo, idem. E nada disso, deixo claro, deve ser encarado como coisa normal, aceitável. Não é!

Mas cabe a pergunta: foi à também nefasta corrupção à moda antiga, que remonta à serpente, que assistimos nos últimos anos? Não me parece! A máquina clandestina, tornada um verdadeiro governo paralelo, obedecia e obedece a uma centralidade: o PT. Aliás, é o que vaza da delação de Delcídio do Amaral. Todos por lá sabiam de tudo.

A evidência, aliás, de que a corrupção do PT não é de modo nenhum corriqueira está no fato de que os corruptos de agora têm entusiasmados defensores na sociedade e, muito especialmente, nos movimentos sociais e nos entes sindicais. Ou não é verdade que mil e poucos ditos artistas assinaram um manifesto contra o que chamam de “golpe” — vale dizer, pela conservação do statu quo?

Essas franjas que se levantam em defesa do indefensável — o comprovado assalto multibilionário a entes estatais — estão justamente referendando a tese de que a “organização” responde por tudo — no caso, uma organização verdadeiramente criminosa.

Não sei o que vem na delação dos diretores da Odebrecht, mas uma coisa eu sei: há uma diferença, e todos merecem punição, entre o corrupto que atua porque encontra frestas no sistema legal para fazê-lo e aquele que corrompe o próprio sistema, fazendo dele um agente da degradação institucional.

Ou por outra: sem conhecer a delação dos diretores da Odebrecht, asseguro que nada é igual a PT porque o PT não é igual a nada que tenhamos visto antes.

Com o partido, a roubalheira, vamos dizer, romântica, também criminosa, chegou ao fim. Assistimos à profissionalização do assalto ao Estado — e também ao Estado de Direito.

Tomara que a delação do diretores da Odebrecht deixe isso muito claro!



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