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terça-feira, 18 de outubro de 2016

O forró, a operação “For All” e a falsa etimologia da PF

 

Ai, Jesus!

Não sei se começo corrigindo a etimologia da Polícia Federal ou lamentando que nem o bate-coxa no Brasil está livre da safadeza. Quer dizer: até pra safadagem o sujeito decide ser… safado.

A estar certa, claro!, a apuração da PF.

Vou começar pelo que ficará de permanente na cabeça do leitor. Não! A palavra “forró” não vem de “for all” — em inglês, “para todos”. Essa é uma das falsas etimologias mais influentes do Brasil. Até porque ela vem com aquele gostinho de cruzamento de culturas, que tanto agrada a certas mentalidades.

Por que isso? A PF deflagrou a operação “For All” para apurar a sonegação de impostos de… bandas de forró. Os dados iniciais apontam para uma omissão de pagamento de tributos que chega a R$ 500 milhões. No centro da investigação, estão as empresas que fazem parte do Grupo A-3. A banda mais conhecida e a “Aviões do Forró”.

Disse a delegada à Folha:
“Quando é feito o cruzamento dessas informações, que também foram confirmadas por outros meios junto à Receita Federal e aos contratantes que informam quanto pagaram por show, estima-se que o que eles declaram é praticamente 30% do que teriam ganhado”, diz a delegada à Folha.

Escreve o jornal:
“Segundo a Polícia, há indícios de que integrantes da organização emitiam dados falsos ou omitiam dados relevantes em suas declarações de imposto de renda, tentando se eximir da cobrança de tributos e convertendo os valores não declarados em imóveis, veículos e gastos pessoais.”

Nome da operação
O nome da operação que apura a sonegação da turma do forró alimenta a bobagem de que a palavra nasceu do inglês “for all”. Os falantes dessa língua teriam caído de amores pelo nosso arrasta-pé, por nossas festas inclusivas e alegres, “feitas para todos”: “for all”.

Segundo o Houaiss, a palavra vem de “forrobodó”, que designa um baile popular, arrasta-pé, festança, mas também bagunça. “Forrobodó”, por sua vez, teria origem na palavra galega “forbodó”, de igual sentido.

Convenham: tem lá a sua graça trágica que até o divertimento, no Brasil, possa estar associado a uma sonegação gigantesca. Ao se tentar desvendá-la — e tomara que a PF seja bem-sucedida no intento —, acaba-se espalhando uma falsa etimologia.

Vamos fazer o seguinte? Apura-se tudo, levam-se os eventuais responsáveis aos tribunais, mas a gente preserva o decoro etimológico.

Que tal?



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