Por Nilson Borges Filho (*)
Embora o candidato Alexandre Kalil represente um partido (PHS) sem expressão política e densidade eleitoral, não se pode negar que seu discurso do não-político e do gestor competente, como empresário e presidente do Clube Atlético Mineiro, está sendo assimilado pelo eleitor masculino, de renda acima da média e jovem.
Histriônico, apelativo, sem qualquer autocontrole na sua fala para arquibancada, o candidato empreiteiro encanta os menos avisados. Curiosamente esse mesmo discurso apresentado por Alexandre Kalil no horário eleitoral gratuito, destituído de qualquer conteúdo e com formato populista rasteiro, atinge um tipo de eleitor que se encontra vulnerável com a baixa avaliação dos políticos em geral, principalmente pelo déficit de moralidade com a coisa pública.
A rigor, esses eleitores que acreditam que o não-político será o salvador da pátria belo-horizontina deve levar em conta que Fernando Collor de Mello fazia esse perfil, e, em São Paulo Celso Pitta foi o horror dos horrores para a capital dos paulistanos.
A esquerda, no seu papel de contraponto ao tucanato mineiro, trabalha com a sua militância para despejar seus votos em Alexandre Kalil, pouco se importando com o baixo-clero que vive no entorno do candidato e suas saídas em público – como dizer? – um tanto amalucadas. No público Kalil dispensa os votos do PT e seus genéricos, mas no privado já se encontrou com o governador Fernando Pimentel e outras lideranças da esquerda mineira.
Como um bom presidente de clube que foi, Kalil joga para a arquibancada. E aquele torcedor que gosta do jogo truculento, do zagueiro que chega em cima e do atacante sem qualidade técnica mas que costuma cavar um pênalti inexistente vai a loucura (não confundir com a galoucura) com o candidato dos olhos esbugalhados e com um linguajar deselegante.
O foco do candidato não-político é o prefeito Márcio Lacerda, esse mesmo Márcio Lacerda que Kalil foi para a televisão pedir apoio dos torcedores do galo e que esse apoio se transformasse em votos para a reeleição de Lacerda. O prefeito se reelegeu e pelas pesquisas sua administração teve pontos muito positivos, inclusive os próprios adversários admitiram avanços na atual administração.
Claro, e isso ninguém nega, que como todas as grandes metrópoles, Belo Horizonte precisa e tem que melhorar muito. Como se pode notar, o discurso de Kalil tentando demonizar a administração atual tem o seu lado eleitoreiro e populista. Na verdade, Kalil não é um candidato mas um personagem que representa um papel ruim num contexto apelativo e simplório. Sabe muito bem mexer com o imaginário do eleitor e sabe demonstrar essa indignação na TV, pois tem o domínio da tela.
Do outro lado, aparece o candidato João Leite, ex-goleiro do Atlético mineiro, deputado por 6 legislaturas e com experiência como gestor público, seja como Secretário de Estado, seja como Secretário Municipal. Desconhece-se nesses 6 anos de legislatura algum malfeito ou deslize moral do candidato tucano.
Detentor de discurso com forte conteúdo programático, João Leite perde-se na quantidade de informações que leva ao eleitor e por ele não processado. Pesa ainda contra o candidato tucano a tonalidade da voz, que não projeta aquela indignação que todos desejam, tampouco demonstra interação com quem está do outro lado da tela.
O discurso de João Leite tem conteúdo, sem sombra de dúvida, mas o formato de como se comunica com o eleitor não agrega voto dos indecisos. O eleitor no primeiro turno em BH deu o seu recado nas urnas, mas o que está se vendo é que a campanha de João Leite sofre de déficit auditivo. Caso Kalil, o que acho difícil, venha a virar o jogo os belo-horizontinos passarão 4 anos se arrependendo, como estão agora em arrependimento os mineiros que elegeram Pimentel.
(*) Nilson Borges Filho é mestre, doutor e pós-doutor em Direito. Foi professor do Curso de Direito da UFSC e do Departamento de Ciência Política da UFMG. Atuou como Juiz Titular do TRE de Santa Catarina.
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