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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Lógica diz que certo discurso é típico de um Lula que vai fugir ou pedir asilo

Tenho uma máxima, de que alguns coleguinhas jornalistas nem gostam muito, segundo a qual a lógica é capaz de fornecer mais furos a um jornalista do que as tais informações de bastidores. O método não tem cem por cento de precisão, mas os famosos “offs” acertam muitíssimo menos. Até porque a informação passada em sigilo sempre atende a interesse de alguém. Ou sigilosa não seria. Ponto.

Isso, claro!, não implica que conversas ao pé do ouvido sejam dispensáveis, desde que se saiba ouvir e que se seja capaz de ligar lé com lé e cré com cré.

Vamos lá. É evidente que ninguém me disse que Lula vai pedir asilo a algum país. Tampouco me informaram que ele vai fugir. Também não sei de fonte nenhuma que ele será preso amanhã… Nada disso!

Uma coisa, no entanto, afirmo sem medo de errar do ponto de vista lógico:
O DISCURSO NO QUAL OS PETISTAS INSISTEM NÃO É COMPATÍVEL COM O DE UM RÉU QUE ESTÁ DISPOSTO A PROVAR A SUA INOCÊNCIA. ELE SE PARECE MAIS COM O DE UM FUGITIVO TENTANDO CONVENCER A OPINIÃO PÚBLICA MUNDIAL DE QUE ESTAVA SENDO VÍTIMA DE UM REGIME DE EXCEÇÃO.

Por que digo isso? Reportagem da Folha desta quarta informa que sindicalistas brasileiros, sobretudo cutistas, lançarão nos próximos dias uma campanha internacional em defesa do ex-presidente.

Um vídeo de aproximadamente 7 minutos sobre a trajetória política do petista, hoje réu em três ações na Justiça, será encaminhado a entidades como a ONU e a OCDE, além dos sindicatos em 155 países associados à Confederação Sindical Internacional. O objetivo é contestar as acusações que pesam contra o ex-presidente por suposta corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro, participação em organização criminosa, tráfico de influência e tentativa de obstruir a Justiça.

Na peça, os advogados de Lula expõem o argumento da defesa de que não há provas consistentes nas acusações, que seriam, na verdade, movidas por interesses políticos, e pelo medo de que o petista se candidate à Presidência em 2018. O vídeo termina com Lula dizendo que “não aceita mentira” e que “não quer nenhum privilégio, só o direito a um julgamento justo”.

Contraproducente
Bem, é evidente que o efeito é contraproducente. O esforço, como se vê, é para mobilizar a opinião pública do Brasil e do mundo em favor do ex-presidente, mas, não há como, também contra a Justiça brasileira.

Se Lula pretende ficar em território brasileiro, a tática e meio suicida. Como é que se pode considerar aceitável, então, uma Justiça que só pode absolver, mas não condenar?

A cada vez que atua desse modo, os lulistas concorrem para degradar ainda mais a reputação daquele a quem querem defender e para elevar a altitudes sempre novas a reputação de Sérgio Moro e da Lava-Jato. Não é possível que não percebam que a tática é contraproducente.

É por isso que insisto nesta leitura: a lógica elementar aponta ser esse o discurso de quem não pretende aceitar a decisão da Justiça.

E não que inexistam elementos contestáveis no andamento que a Força-Tarefa e Moro deram às coisas que dizem respeito ao presidente. Há, sim. De fato, pouca gente está interessada em ouvir. Mas convenham: não será atacando todo o aparato judicial brasileiro — porque é disso que se trata; afinal, o caso, a depender, chegará ao Supremo — que se vai chegar a um bom lugar.

Mais: a insistência na tese de que há um esforço para tirar Lula de 2018, depois do resultado de 2016, chega a ser bisonha.

Esse vídeo e as táticas que o cercam são o caminho mais curto ou para a cadeia ou para a fuga.



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