São absolutamente infundadas, a meu ver, as críticas à reação do Itamaraty e do chanceler Aloysio Nunes Ferreira ao ataque à Síria, ordenado por Donald Trump, presidente dos EUA. E são infundadas de modos distintos e combinados.
Mas, afinal, o que disse o governo brasileiro? Segue a íntegra da nota, com data de 7 de abril:
O governo brasileiro manifesta preocupação com a escalada do conflito militar na Síria. Reitera sua consternação com as notícias de emprego de armas químicas no conflito sírio. Reafirma a importância de que sejam conduzidas investigações abrangentes e imparciais sobre o ocorrido em Idlib, que levem à apuração dos fatos e à punição dos responsáveis.
A solução para o conflito sírio requer diálogo efetivo e pleno respeito ao direito internacional. Nesse contexto, renovamos o apoio às tratativas conduzidas em Genebra sob a égide das Nações Unidas e com base nas resoluções do Conselho de Segurança.
O Itamaraty tem mantido contato regular com a comunidade brasileira residente na Síria. Não há registro de brasileiros entre as vítimas do ataque. O núcleo de assistência a brasileiros do MRE está à disposição para informações e esclarecimentos, de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h, pelos telefones +55 61 2030 8803 e +55 61 2030 8804, e pelo e-mail dac@itamaraty.gov.br. Nos demais horários, poderá ser contatado o telefone do plantão consular da Subsecretaria-Geral das Comunidades Brasileiras e de Assuntos Consulares e Jurídicos do Itamaraty: +55 61 98197 2284.
Consultas da imprensa devem ser dirigidas à Assessoria de Imprensa do Gabinete, imprensa@itamaraty.gov.br e +55 61 2030 8006 / 7.
No dia 4, quando veio à luz a informação do ataque químico a uma cidade da Síria, o Itamaraty afirmou:
O governo brasileiro recebeu, com alarme e grande preocupação, notícias sobre o emprego de armas químicas, na província síria de Idlib, que teria vitimado fatalmente dezenas de civis, entre eles crianças.
O governo brasileiro ressalta a importância da realização de investigações imparciais para identificar os responsáveis, e manifesta sua plena solidariedade e suas mais profundas condolências aos familiares das vítimas dos ataques.
O Brasil reitera sua veemente condenação ao uso de armas químicas, sob quaisquer circunstâncias.
Retomo
Como se observa, o governo não ignorou o ataque químico, chamou a atenção para a sua gravidade, mas, à diferença de boa parte de seus pares latino-americanos e da maioria dos países europeus, não endossou a decisão de Trump.
Por que não? Recebi o texto de um furioso, que não foi imunizado pela vacina antirrábica, afirmando que assim era porque, afinal, Aloysio Nunes foi militante de esquerda na juventude e, pois, em razão desse esquerdismo, teria decidido criticar a decisão de Trump.
A besteira é monumental. Há muitos anos e há vários governos, o Itamaraty não endossa ações punitivas ao arrepio da ONU, como foi o caso. Mais: a política externa em curso não é de Aloysio, ainda que ele continuasse comunista, o que é besteira, mas do presidente Michel Temer, que comunista nunca foi…
De resto, o ataque de Trump desrespeita a lei dos próprios EUA, embora outros presidentes, Barack Obama inclusive, tenham feito a mesma coisa. Quem decide se o país vai ou não à guerra é o Congresso. Qual tem sido o truque da Casa Branca, não importa o inquilino? Um bombardeio de retaliação ou advertência não é guerra. Convenham: é de uma espantosa vigarice intelectual.
Há mais: essa política do game sangrento é a que os EUA vêm aplicando à Síria desde o início da guerra civil. E a situação só fez piorar. Assim, o ataque decidido por Trump viola leis internacionais, viola a lei nacional e viola a verdade dos fatos.
Cada ataque que não derruba Assad só serve para fortalecer Assad!
Além de colaborar objetivamente com o terror.
Não é um raciocínio tão difícil de entender quando não se está cegado pela ideologia e pelo “proselitrumpismo da periferia”.
Arquivado em:Brasil, Mundo, Política
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