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quarta-feira, 26 de abril de 2017

Direita xucra mata verde e amarelo e promove 28 de abril vermelho

O protesto-greve marcado pelas esquerdas para o dia 28 próximo “já pegou”. Infelizmente, os cenários que desenhei com tanta antecedência — o que me rendeu a fúria dos imbecis — vai se materializando com precisão matemática.

O futuro do Brasil depende hoje da resiliência do presidente Michel Temer e do Congresso Nacional. Pode-se apostar no espírito persistente do primeiro. Já o Parlamento, infelizmente, é uma incógnita. Ou nem tanto. O governo foi derrotado nesta terça, por exemplo, na votação do projeto, oriundo do Senado, que renegocia a dívida dos Estados. A elevação da contribuição dos servidores estaduais de 11% para 14% foi retirada do texto. Leia post a respeito.

Acho impressionante que as várias, como chamar?, faixas ideológicas da militância não-esquerdista tenham ignorado de forma tão determinada a realidade do país, mesmerizadas pela algaravia da militância virtual, aquela de Facebook, que transforma a “curtida” numa categoria de pensamento.

“Caiu o número de curtidas de Fulano? Ih, ele está em baixa!” “Cresceram as referências negativas a Sicrano? Então ele está acabado!” É mais ou menos como se eu achasse que posso governar o Brasil porque o meu programa de rádio, “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan, tem sozinho a audiência dos quatro ou cinco seguintes, de outras emissoras. Como sabe a Jovem Pan. E como sabem os quatro ou cinco seguintes.

Rompimento e alienação
O rompimento do meu ponto de tolerância com os equívocos e a falta de apreço pela realidade dessas correntes à direita se deu quando constatei que movimentos que tiveram um papel relevante na deposição de Dilma houveram por bem que era hora, Santo Deus!, de marcar um protesto — aquele micão de 26 de março — em defesa da Lava Jato (???), contra o foro privilegiado (!!!), em favor da revisão do Estatuto do Desarmamento (???) e por aí… Até de reformas se falou um pouquinho. Mas bem pouquinho.

Ali se evidenciava um estado de alienação que, se não chegou exatamente a me surpreender pelo conteúdo, irritou-me pela arrogância. A teoria sem prática é mero exercício de dogmática. A prática sem teoria é pragmatismo xucro. O país dependia, como depende, vitalmente do Congresso para não ser condenado por décadas à mediocridade, e os nossos — e agora a teoria política gargalha de tédio — “direitistas” estavam empenhados em marchar, na prática, contra esse Congresso? Pois é… Era o que exigia o PC, o “Partido das Curtidas”.

E não que o fermento — e também adverti para isso — não estivesse fazendo inchar a massa. A levedura estava em ação. Cinco dias depois, em 31 de março, a esquerda botou dez vezes mais gente nas ruas. Contra as reformas.

Nunca espero
Não esperei o dia 26 de março se tornar o enterro de quimera para escrever. Um mês antes, na coluna da Folha de 24 de fevereiro, registrei:

Mantenho-me relativamente longe do bueiro do inferno em que se transformaram as redes sociais e páginas da internet que, embora se apresentem como jornalísticas, ou são miasmas do esgoto ou são expressões bisonhas do lobby de especuladores e bucaneiros.

Igualam-se na violência retórica, na irresponsabilidade, na ligeireza com que sentenciam pessoas à morte. Embora longe, é claro que acabo alcançado pelo fedor. Sempre há aquele que diz: “Viu o que falaram de você?”.

A extrema direita, a extrema burrice e o extremo oportunismo se uniram para me declarar, acreditem!, inimigo da Lava Jato. Acusam-me também de sabotar a manifestação de protesto –ou algo assim– do dia 26 de março, marcada por alguns dos grupos que apoiaram o impeachment.

A inconsistência da pauta é a melhor evidência de por que não deveria acontecer. Chamam de sabotagem uma crítica política legítima. Nota: eu seria adversário da Lava-Jato porque critico algumas decisões de membros do MPF e do juiz Sérgio Moro. Pois é. Não nasci para fazer hagiografias.

A esquerda agradece embevecida.

O conservadorismo responsável pode ainda se tornar a principal vítima da criminalização da política, promovida por irresponsáveis que se querem conservadores. Ademais, se não serve a política, que venha a porrada!”.

O que se deveria esperar?
O que se deveria esperar de uma direita responsável, organizada, estudiosa, técnica, criteriosa — e só assim se pode ser um pragmático sério? Ora, que mantivesse a interlocução com ao menos uma parte dos que foram às ruas em favor do impeachment e que desse o devido suporte ao Congresso — e ninguém precisa aplaudir a roubalheira para isso — para que possa engendrar as reforma necessárias. Ao Congresso e, claro!, também ao governo.

Em vez disso, essa direita não tem outra coisa na língua e na cabeça que não a linguagem policial. Entregou, de forma miserável, o campo da política inteiramente à esquerda e se dedica apenas à marquetagem vulgar. No fim das contas, evidencia a sua incompatibilidade com o regime democrático.

Resista, Congresso!
Tudo depende, reitero, da resiliência de um Congresso que apanha da direita que segue o credo da Igreja Dallagnol-Morista e apanha da esquerda, QUE ESTÁ CAPTURANDO OS SETORES MÉDIOS DA SOCIEDADE, porque lhe cabe (ao Parlamento) votar as reformas.

Foram as correntes de direita, pautadas por fanáticos da Lava-Jato, com sua permanente demonização da política, que espalharam um mal-estar Brasil afora: “Como é que m Congresso de ladrões pode votar a reforma da Previdência?”

Saberá esse Parlamento dar de ombros para a esquerda reacionária, que quer ainda mais estado, e para a direita xucra, que o demoniza nas redes sociais, tentando impedi-lo, por exemplo, de fazer a necessária reforma política?

Tomara que saiba! As ruas que se vestiram de verde e amarelo estão mortas. Alguns de seus protagonistas estão mudos porque não tinham nada a dizer fora do ambiente da delegacia de polícia. Sua militância sistemática, com seu estandarte lava-jatista, para manchar o Congresso e o Poder Executivo foi muito bem-sucedida… para as esquerdas!!! As ruas ficaram vermelhas.

A propósito, pergunto: aqueles que organizaram o dia 26 não pensam numa nova marcha em defesa das reformas? Acho que não!!! Seria preciso lançar palavras de ordem contra os políticos, os mesmos que têm de aprovar as reformas.

Meu professor dos 15 anos estava certo ainda antes de mim: “A burrice é a pior forma de reacionarismo”.

Os xucros ressuscitaram os dinossauros de esquerda. E o dia 28 vem aí.

Como é mesmo? O diabo é diabo porque é velho, não porque é sábio.

Nem sou tão velho. Mas compenso essa falha com alguma sabedoria.


Arquivado em:Brasil, Política


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