Bem, o cenário de terror está desenhado com todos os números pela mais recente pesquisa Datafolha sobre a eleição presidencial de 2018. O instituto ouviu 2.781 pessoas, nos dias 26 e 27 deste mês em 172 municípios. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. O levantamento, pois, foi feito depois da divulgação da Lista da Odebrecht e das “confissões” de Léo Pinheiro a Sérgio Moro. E, no entanto, Lula lidera as intenções de voto no primeiro turno em todas as simulações em que aparece seu nome. Também venceria a maioria dos adversários no segundo turno. Ele só empataria tecnicamente com Marina Silva e Sérgio Moro… Ai, ai…
Há dias, quando foram divulgados dados do ibope sobre potencial de votos dos candidatos — e também lá havia a informação de que 30% votariam em Lula com certeza —, alguns bocós da direita, incapazes de fazer um “o” com o copo, berraram: “Esperem os efeitos da Lista da Odebrecht e do depoimento de Pinheiro…” E eu escrevi aqui e disse na rádio e na TV: do ponto de vista penal, a situação de Lula se agrava; eleitoralmente, estar ou não em listas, ter seu nome citado ou não por delatores, tudo isso já não atinge mais negativamente a sua imagem.
Pois é, né? Quanto apanhei quando afirmei que a direita xucra estava ressuscitando Lula e o PT!!! Quanta pancadaria vinda de vigaristas, pistoleiros e bucaneiros porque acusei a Lava Jato, o Ministério Público Federal e Rodrigo Janot, em particular, de igualar desiguais, de meter no mesmo saco de gatos pardos o caixa dois com e sem contrapartida.
Na minha coluna da Folha de 17 de fevereiro, comentando justamente dados de uma pesquisa, sintetizei: “Se todos são iguais, então Lula é melhor”.
E, antes que entre nos números, uma observação fundamental. Eu não antevejo a eleição de Lula. Há uma boa possibilidade de que esteja condenado em segunda instância até lá — caso o MPF consiga provar que apartamento e sítio são mesmo dele. Se vai ou não ser candidato, se será eleito “com certeza” ou “derrotado com certeza”, isso é conversa de tolos, de demagogos, de gente chinfrim.
A minha questão é outra e já estava naquela coluna da Folha: “AINDA É CEDO, CLARO! MAS UMA SOCIEDADE DIZ ALGUMA COISA DE SI MESMA, DO PROCESSO POLÍTICO E DO FUTURO QUANDO UMA MÉDIA DE 30% DOS ELEITORES, MESMO DEPOIS DE TUDO, ESTÁ COM LULA. E PODERIA SER DIFERENTE? A INDIGNAÇÃO COM A CORRUPÇÃO E OS DESMANDOS DO PT DEGENEROU DEPRESSA EM MORALISMO TACANHO, EM ÓDIO À POLÍTICA, EM CONTÍNUA DEPREDAÇÃO DE PROCEDIMENTOS MESMO OS MAIS CORRIQUEIROS DA ATIVIDADE.”
Vídeos de gritantes nulidades morais e intelectuais pipocaram contra mim nas redes. Sim, houve candidatos a gurus e a Goebbels da periferia que chegaram a antever o meu fim… E, no entanto, fazer o quê? Acertei todas. Eles erraram todas. E continuam a falar e a fazer bobagem! Seria vergonhoso se houvesse vergonha naquelas paragens. Mas essa não é uma herança que todo pai deixe, não é?, como naquela música. E seus rebentos não haveriam de inaugurar a tradição da decência. Avante!
Os números
Vejam as simulações de primeiro turno:
Se a eleição fosse hoje, Lula lideraria a o primeiro turno em todos os cenários em que seu nome aparece: o mínimo é 29%; o máximo, 31%. Tem o dobro ou mais do segundo lugar. Jair Bolsonaro (PSC) e Marina Silva (Rede) disputam esse posto, em empate técnico. Ela lidera em duas simulações em que Lula não aparece.
O pior cenário para o petista, o 6, é absolutamente improvável: ali aparece Sérgio Moro como candidato, com 9%. Aécio Neves e João Dória, hoje dois tucanos, estão na lista — um deles teria de concorrer por outro partido, e é certo que não seria o senador mineiro, presidente da sigla. Os dois teriam 5%. Nem Moro vai disputar nem Dória, creio, sairá do PSDB.
Já o Cenário 1, no que respeita às candidaturas, é plausível. O petista aparece com 30%, seguido por Bolsonaro, com 15% e Marina com 14%. Aécio fica com 8%. Temer aparece na lista como candidato, com 2%. Não sei por que incluí-lo na simulação. Não vai disputar. Se Aécio é substituído por Geraldo Alckmin (Cenário 2), Lula fica na mesma, e Marina e Bolsonaro têm pequena variação: 16% e 14%, respectivamente. O atual governador de São Paulo fica com 6%, empatado com Ciro Gomes (PDT). Se João Doria é o nome do PSDB (Cenário 3), Lula marca 31%, e o prefeito, 9%. A redista e o deputado do PSC ficam com respectivos 16% e 13%
Ainda com Doria, mas sem Lula (Cenário 4) — eis algo plausível —, Marina vai para o topo, com respeitáveis 25%, seguida pelo Profeta do Nióbio e do Grafeno, que marca 14%, em empate técnico triplo com Ciro (12%) e Doria (11%). A líder espiritual da Rede também mantém a dianteira no Cenário 5: 25%. Nesse caso, Bolsonaro vai a 16%, seguido por Ciro (11%) e Alckmin (8%).
Segundo turno
Vejam os dados.
Pois é… Hoje, Lula venceria todos os tucanos: 43% a 27% contra Aécio; 43% a 29% contra Alckmin e 43% a 31% contra Doria. O petista ficaria tecnicamente empatado, mas atrás numericamente, com Marina: 41% para ela e 38% para ele e, ora vejam!, o Babalorixá ficaria a dois pontinhos de Sérgio Moro: 42% a 40%.
Rejeição
Vejam o quadro:
Faz sentido Aécio (44%) ser mais rejeitado do que Lula: 45%? Resposta óbvia: é claro que não! A rejeição a Alckmin não é das maiores: 28%. Doria e Moro, nesse quesito, vão alegremente lá para o fim da fila: só 16%.
Concluo
Eis aí a que quadro nos conduziram a rejeição à política e aos políticos, a demonização da vida pública, o permanente achincalhamento das instituições.
Vocês estão contentes com o que veem? Insisto: se vai ou não haver tempo para Lula ser candidato é irrelevante agora. O relevante é que, depois de tudo, é ele o nome mais forte para 2018.
Não é uma graça? A Lava Jato, do ponto de vista eleitoral, acabou punindo mais o PSDB do que o PT.
Parabéns, Janot! Eu já estaria satisfeito se estivesse 70% certo. Mas o procurador-geral não fez por menos: “Acerte 100%, Reinaldo!”
Pois não.
Arquivado em:Brasil, Política
from Reinaldo Azevedo – VEJA.com http://ift.tt/2qshJ4K
via IFTTT
Nenhum comentário:
Postar um comentário