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domingo, 9 de abril de 2017

Dilma Bolada em Harvard: Solecismo e solipsismo num abraço insano

“Ah, meu Jesus Cristinho!”, como diria Manuel Bandeira…

Dilma participou neste sábado da “MIT&Harvard Brazil Conference”. Antes dela, havia falado o ministro Gilmar Mendes, membro do Supremo e presidente do TSE. Depois dela, o juiz Sérgio Moro. Há outras personalidades brasileiras que participam do evento.

Sem dúvida, a atuação da petista impressionou… A ex-presidente deve ter dormido muito pouco. Isso explicaria uma agitação que me pareceu meio fora da curva. Juntou a seu raciocínio habitualmente confuso um comportamento, como direi?, pouco ortodoxo. Sim, ela lascou uma frase de efeito, dessas que vão pra palanque: “Não tenho medo nem culpa”. Criticou a Lava Jato. Insistiu que o impeachment é golpe. Demonizou a direita — que, segundo ela, não pode “hegemonizar” o centro. Sei. Certamente ninguém entendeu por que, então, esquerda poderia…

Bem, se Dilma fizesse sentido, vamos convir, Dilma não seria. Ela só se explica, assim, pelo encontro do solecismo com o solipsismo — vale dizer: do discurso sintaticamente esgarçado com uma apreensão muito particular, única!!!, do mundo.

No momento mais encantador de sua fala, afirmou esta pérola:

“Me preocupa muito que mudem as regras do jogo democrático. Me preocupa que prendam o Lula. Me preocupa que tirem o Lula da parada (…). Infelizmente, para as oposições, ele tem nas pesquisas 38%, com tudo o que fizeram com ele (…). Deixa ele concorrer para ver se ele não ganha.”

Que coisa!

No dia 6 de setembro deste ano, vai fazer 11 anos — isto mesmo! — que publiquei o meu primeiro artigo na VEJA. Sabem qual é o título? “Urna não é tribunal. Não absolve ninguém.” A íntegra está aqui.

Reproduzo um trecho:
“Um novo refrão anda “nas cabeças, anda nas bocas”, poderia dizer o lulista Chico Buarque: a possível reeleição do presidente absolve os petistas de todos os seus crimes. As urnas fariam pelo PT o que o ditador soviético Josef Stalin fez por si mesmo: apagar a história. É um embuste. A vantagem do presidente se deve à economia, à inépcia e inapetência das oposições, às políticas assistencialistas, tornadas uma eficiente máquina eleitoral, e à ignorância, agora a serviço do tal “outro mundo possível”. O povo é, sim, um tipinho suspeito, mas não vota para livrar a cara dos marcolas da ideologia.
O voto do ignorante vale menos? Não. Mas também não vale mais. Nem muda a natureza das instituições. E não absolve ninguém, tarefa que continuará a ser da Justiça. A vacina contra o autoritarismo virótico de quem pretende cair nos braços do povo para ser absolvido de seus crimes está em Origens do Totalitarismo, da pensadora judia-alemã Hannah Arendt. Aprende-se ali que não devemos permitir que os inimigos da democracia cheguem ao poder, negando-nos, uma vez lá, em nome dos seus princípios, as liberdades que lhes facultamos em nome dos nossos.

Não é impressionante? Eu comentava, então, pouco antes da reeleição de Lula, em 2006, que já era dada como certa, a tese dos petistas segundo a qual a recondução do homem à Presidência estaria a evidenciar que o povo absolvia o PT, anistiava seus criminosos. E olhem que estamos falando do mensalão, aquele crimezinho mixuruca perto de tudo o que revelou o petrolão.

Falas
Voltem à fala aloprada de Dilma. Ela chama a eventual condenação de Lula, com pena de prisão, de “mudança das regras do jogo democrático”. Assim, a gente entende que, para que tal mudança não aconteça, a Justiça só tem uma coisa a fazer: absolver o homem, com ou sem motivos. Ou, claro!, estaríamos diante de mais um golpe, né?

É constrangedor — e isto dá conta a miséria da vida política brasileira — contatar que, aquela estupidez de 2006 está de volta 11 anos depois.

Cuidado! Também há método
Mas cumpre olhar a coisa com cuidado. No meio da loucura, havia método. Enquanto a direita brasileira, especialmente a xucra, anda às voltas com a demonização da política e dos políticos, com a exacerbação do discurso ideológico mais boçal e primitivo, com a reedição de comportamentos que lembram o antigo CCC (Comando de Caça aos Comunistas), com a busca desesperada do “Trump brasileiro”, a esquerda vai ajustando o discurso.

E isso também se viu Dilma fazer. Lá estava ela a afirmar que corte de gastos e reformas são só corolários do golpe dado contra o povo, da necessidade de retomar o desenvolvimento, da proteção das empresas (e da engenharia!) nacionais etc.

Ela estava meio maluquete, sim. Mas deixou vazar resquícios de uma agenda. E qualquer agenda sempre será mais eficiente do que agenda nenhuma.

A íntegra de sua intervenção, com fala inicial e respostas às perguntas, está no vídeo abaixo.

 


Arquivado em:Brasil, Ideias, Política


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