Há umas três semanas, conversando ao telefone com um amigo que também é muito amigo do prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB), afirmei: “A pesquisa Datafolha sobre os 100 dias ainda não saiu, mas eu já sei que ele baterá recorde de aprovação. E eu vou escrever que isso indica que a maioria dos paulistanos quer que ele continue na Prefeitura”.
Pois é… Nem é preciso que eu diga isso em lugar do povo. Este mesmo o diz em seu próprio nome na pesquisa Datafolha divulgada neste domingo. Mais: espero que os números confiram um pouco de realismo e prudência aos mais exaltados. A pesquisa é muito boa para o prefeito, sim. Mas só um tolo, um imprudente, um irresponsável não veria nos números alguns sinais amarelos de advertência. Doria, felizmente, não é nada disso. Precisa é conter certo alarido que gera muito calor e nenhuma luz. Adiante.
Doria obteve o maior índice de “ótimo/bom” desde que a eleição direta foi reinstituída na capital: 43%. Antes dele, o recorde era de Marta Suplicy, hoje no PMDB: 34%, seguida pelo petista Fernando Haddad (31%). O tucano, no entanto, não é o que exibe o menor índice de ruim/péssimo: 20%. Justamente Marta e Haddad tinham um número melhor: 14%. Para ficar atento: no início de fevereiro, só 13% reprovavam a gestão. Em dois meses, pois, houve um salto de sete pontos percentuais.
Quer que fique
Notem que não preciso, de fato, ser eu a interpretar a vontade da população da cidade. O Datafolha indagou se ela quer que Dória fique no cargo ou se candidate a governador ou presidente. Nada menos de 55% dizem que o querem onde está. Defendem que tente o Palácio dos Bandeirantes 13% dos entrevistados, e 14% preferem a Presidência. O que isso significa? O óbvio! Deixar o mandato antes da metade do tempo tem um enorme potencial de desgaste. Inicialmente, na cidade; depois, a coisa se espalha. José Serra conhece isso muito bem, embora entre a saída da Prefeitura e a disputa de 2010 à Presidência, ele tenha sido eleito governador de São Paulo no primeiro turno (2006).
Há outro número ao qual cabe ficar atento. Segundo o instituo, os que demonstram entusiasmo por sua candidatura à Presidência e votariam nele com certeza não são compatíveis com o alarido das redes sociais — acho Doria inteligente o bastante para não confundir as coisas. Votariam nele com certeza, para a Presidência 26% (32% para o governo); talvez votassem para esses cargos, respectivamente, 29% e 31%. Mas é inequivocamente alto o índice dos que dizem que não o escolheriam para a Presidência de jeito nenhum (42%) nem para o governo (35%).
Reitere-se: estamos falando da população da cidade de São Paulo, que confere ao prefeito uma avaliação positiva recorde e que, majoritariamente, o quer no cargo. O potencial para uma eventual renúncia atingir fortemente a sua reputação é grande. E ninguém precisa ser muito esperto para intuir que a onipresença do prefeito nas redes sociais exerce um duplo papel, não? Reafirma, sim, sua condição de pré-candidato, mas também exalta a figura do prefeito operante.
Expectativas
O prefeito pode ficar satisfeito ao avaliar as expectativas, ainda que quase a metade — 47% — afirmem que ele está abaixo do que esperavam. Dizem estar acima 20%. Para 28%, ele faz o que esperavam que fizesse. Diziam que Serra fazia menos do que o esperado 70% (e, depois, deixou a Prefeitura com alto índice de aprovação e se elegeu governador); no caso de Haddad, 49%. Mas que se reconheça: para que aqueles 47% não cresçam, muita coisa tem de acontecer.
Dizem que nada mudou no seu bairro 71% dos entrevistados; para 11%, houve piora, e, para 16%, melhora. Ora, é evidente que, em três meses, não se pode esperar muito mais do que isso. O prefeito ainda não teve tempo de fazer grandes coisas pela cidade. Mas isso também deve pôr em perspectiva sua pré-candidatura à Presidência.
Doações
Mesmo uma atuação que, até hoje, só vi ser criticada pelas esquerdas é vista com suspicácia nada discreta: para 45%, as doações feitas por empresas não são nada transparentes; dizem ser pouco 31%, e só 16% as consideram muito transparentes.
Atenção!
Há outros dados que precisam ser levados em consideração quando se tomam três meses de gestão de uma cidade como evidência de que se está diante de um candidato imbatível à Presidência: aqueles 43% de aprovação chegam a 67% entre os mais ricos e a 56% entre os que têm ensino superior.
Mais um número? Como vimos, 47% acham que o prefeito fez pela cidade menos do que esperavam. Ocorre que entre os mais pobres, esse índice chega a 61%.
Acho que não preciso lembrar que o Brasil é composto de uma maioria de pobres, com baixa escolaridade.
Caminhando para a conclusão
O prefeito de São Paulo tem motivos para ficar satisfeito com o seu desempenho. É considerado, pela população, nos três primeiros meses, o melhor em muitos anos.
Os sinais de insatisfação, no entanto, estão presentes também. Acho os números bons para Doria, além de realistas, mas os mais entusiasmados talvez se decepcionem e invistam no erro de optar por ainda mais alarido.
Uma sólida maioria quer que o prefeito continue no cargo. Há tempo até a definição da candidatura do PSDB à Presidência, e é evidente que Doria é um dos pré-candidatos. Mas também isso depende da qualidade de sua gestão, certo? Esses três meses levaram a população a considerar que o copo está meio cheio e meio vazio.
*
A pesquisa feita foi feita com 1.067 pessoas com 16 anos ou mais na cidade de São Paulo, nos dias 6 e 7 de abril. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.
Arquivado em:Brasil, Política
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