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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

NÓS E OS ALGORITMOS

Por Maria Lucia Victor Barbosa (*)
Na sua magistral obra, Homo Deus, Yuval Noah Harari trata de temas extremamente complexos e instigantes de forma compreensível ao senso comum. Entre outros assuntos ele mostra com clareza o que é um algoritmo, termo que vai entrando na moda, mas que é pouco entendido pela maioria:
“Um algoritmo é um conjunto metódico de passos que pode ser usado para realização de cálculos, na resolução de problemas e na tomada de decisões”. Como exemplo simples de algoritmo ele dá uma receita de sopa em que os “passos metódicos” são os ingredientes usados para fazer o alimento.
Acrescenta o autor do best-seller que já vendeu mais de dois milhões no mundo, “que os algoritmos que controlam os humanos funcionam mediante sensações, emoções e desejos”, justamente o ponto que desejo abordar nesse pequeno e modesto texto. Isto porquê, se a tecnologia é algo extraordinário, dependendo do uso que se faz dela pode ser usada não para o bem e sim para o mal como tudo que é humano.


Fluxograma, um exemplo de 
algoritmo imperativo. O estado
 em vermelho indica a 
entrada do algoritmo
 enquanto os estados
em verde indicam as 
possíveis saídas.By Wikipedia
Um dos usos perigosos é o aperfeiçoamento da manipulação, que sempre existiu, mas que agora é elaborada por técnicas cada vez mais avançadas. Sem perceber a maioria obedece aos interesses de governos, de partidos políticos, da mídia, do marketing, do mercado, da opinião pública, de outras entidades ou grupos. Isso se faz através de passos metódicos baseados em algoritmos que manipulam sensações, emoções e desejos.
A mídia, conforme, Jorge Moreira, tem o “setting, um tipo de efeito social que compreende a seleção, disposição e incidência de notícias sobre temas que o público falará e discutirá. “A agenda é pautada por diversas conveniências do governo e da necessidade de verba de publicidade dos meios de comunicação”. “O que um canal de TV, um jornal ou uma revista postam, todos seus concorrentes seguirão a pauta”.
Como exemplo concreto relembro que o uso da mídia e do marketing foi largamente usado pelo governo petista, muito além de outros governos. Desse modo, Lula se tornou intocável, inimputável, sempre encaixado no papel de vítima. Criticá-lo era sacrilégio, crime de lesa-majestade, algo politicamente incorreto.
Eleito presidente da República na quarta tentativa, foi reeleito malgrado o escândalo do mensalão e, para provar que detinha quase a maioria do povo elegeu e reelegeu sua sucessora, uma façanha política e tanto.
O PT, que se disse puro, ideológico, capaz de mudar o que os outros partidos faziam de errado, continuou elegendo correligionários apesar de ter institucionalizou a corrupção. Os petistas haviam finalmente encontrado um bom marqueteiro que fazia a mágica.
Entretanto, uma das características da vida e das sociedades é o dinamismo e por um processo ligado a uma série de fatores mudanças acontecem mesmo em sistemas autoritários e totalitários. Nas democracias a insatisfação popular manifesta livremente é um dos fatores de mudança e nenhum governo resiste quando a economia vai mal.
Os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff mergulharam o Brasil na pior recessão da nossa história. Como consequência aconteceu o impeachment na esteira da insatisfação popular. Atentos às suas necessidades de votos, parlamentares foram sensíveis à reivindicação de milhões de brasileiros que nas maiores manifestações já havidas no País foram às ruas pedir a saída de Rousseff.
O pior governo que o Brasil já teve esboroou com estrondo. Em vão o PT tentou chamar de golpe o que na verdade era resultado do inconformismo popular com o desemprego, a inflação, a inadimplência. Nas eleições municipais veio outro troco dos brasileiros: o PT perdeu 60% de suas prefeituras e Lula viu minguar seu prestigio.
Diante disto, lideranças petistas agora fazem cálculos para recuperar o enorme poder que já desfrutaram, mas sabem que só podem resgatá-lo mediante a volta à presidência da República do seu único candidato viável, Lula da Silva, em que pese este ser cinco vezes réu.
Apropriadamente surgiu uma pesquisa benfazeja mostrando Lula em primeiro lugar. Pesquisas podem funcionar como marketing, pois pessoas costumam votar em quem está no topo das escolhas para também sentirem vencedoras. O PT sabe disso e tem esperança de que seu líder volte a ser amado enquanto dirige o foco do ódio, que tão bem sabem manejar, para outras figuras como Temer, Alexandre de Moraes, a Polícia e até Trump, presidente dos Estados Unidos do qual não se deixa de falar mal um dia sequer.
Lula sabe instintivamente manipular sensações, emoções e desejos. Em 2018 tudo vai depender das circunstâncias, mas é bom lembrar do que escreveu Nicolau Maquiavel, em 1513, na sua eterna obra, O Príncipe: “Os homens são tão pouco argutos e se inclinam de tal modo às necessidades imediatas, que quem quiser enganá-los encontrará sempre quem se deixe enganar”.

(*) Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, autora entre outros livros do “O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – a ética a malandragem” e “América Latina – em busca do paraíso perdido”.


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