Porta-vozes de alguns procuradores paranoicos da Lava Jato plantam na imprensa e na subimprensa da especulação a falácia de que há um complô contra a operação. E, segundo leio num texto, os valentes pretendem retaliar. As bobagens vão sendo disparadas sem que se pergunte nem mesmo a eficácia que teria um determinado ato no complô. Querem ver?
Alexandre de Moraes, futuro ministro do Supremo, sempre teria sido, segundo essa teoria, o escolhido por Michel Temer. O presidente teria feito jogo de cena e enganado interlocutores com nomes como Ives Gandra Martins Filho e outros. Mas notem: isso só teria relevância por quê? Ora, para interferir na Lava-Jato.
Não há apenas uma mentira escandalosa aí, mas várias.
1: não é verdade que Moraes fosse desde sempre o indicado; chegou a ser Martins Filho; a patrulha de esquerda conseguiu derrubá-lo; 2: Temer poderia ter indicado, se quisesse, o futuro relator da Lava Jato. É o que dispõe o Regimento Interno do Senado. Avisou, no entanto, ao Supremo que só anunciaria um nome depois que o tribunal escolhesse o dito-cujo; 3: quem primeiro falou na imprensa sobre a possibilidade de ida de um nome da Primeira Turma para a Segunda — sugerindo justamente Edson Fachin —, fui eu; 4: foi Cármen Lúcia a bater o martelo sobre esse critério; se quisesse, teria feito o sorteio entre os outros nove ministros; 5: então agora até Fachin faria parte da conspiração, que, nesse caso, só poderia ter sido combinada com Cármen Lúcia; 6: como é que Moraes poderá prestar favores a quem quer que seja no caso do petrolão se vai integrar, uma vez aprovado, a Primeira Turma do Supremo? É a segunda que julga o petrolão; 7: “Ah, mas ele será revisor do processo…” Sim, no pleno, perante os outros 10 ministros. Ocorre que a esmagadora maioria dos envolvidos no petrolão será julgada pela Segunda Turma;
8: ainda que Moraes quisesse “ajudar” o governo, como seria essa interferência? O revisor é dono de um único voto. E não lhe cabe, por exemplo, interpretar Regimento;
9: então devemos concluir que Temer abriu mão de indicar o relator da Lava Jato (poderia ter sido o próprio Moraes, por que não?), mas se organizou para ter o revisor da parte ínfima do petrolão?
É tudo de um ridículo sem limites.
Gilmar Mendes Calma, não acabou por aí. Gilmar Mendes, que a esquerda petista acusa de ter ajudado a derrubar Dilma, passou a ser considerado um inimigo do lava-jatismo. Por quê? Ora, ele defendeu que se examinem os critérios para a prisão preventiva. Aí os procuradores decretaram a “fatwa”! Que coisa!
Os que saem repetindo por aí as mentiras do núcleo paranoico e fascistoide da Lava Jato não se ocupam nem em fazer um levantamento dos votos que o ministro deu até agora no âmbito da operação. Seriam eles próprios de um adversário? Como esquecer? Aqueles seis a cinco no STF em favor da possibilidade de prisão já a partir da condenação em segunda instância tem ninguém menos do que Mendes como o voto de desempate em favor da execução precoce na pena. Aí Dallagnol sugere que, sem isso (e, pois, sem o voto de Mendes), a Lava Jato morreria. Mas o ministro, claro!, é um inimigo.
E a outra evidência de conspiração contra a Lava Jato seria a nomeação de Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidência — como se não fosse ele, desde sempre no governo Temer, ministro de fato. O que não está claro — e não está porque isso tudo não passa de construção mental sem evidência fática — é como Moreira poderia sabotar a Lava Jato. É um escárnio.
Leio em uma reportagem da Folha que alguém da Força Tarefa promete que haverá, a cada ato considerado hostil à Lava Jato, uma retaliação.
Só não dá para saber quem compõe esse tribunal secreto.petrolãop
Acreditem: o que existe ao fim dessa trilha é o buraco ou do autoritarismo ou da desordem. Homens de Estado, com poder de investigação, com acesso a dados sigilosos e com instrumentos de pressão garantidos pelo dinheiro público, não ameaçam nem chantageiam.
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