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domingo, 13 de dezembro de 2015

Renan Santos, do MBL: “A imprensa deveria parar de pedir que os lobos deem a sua opinião sobre os cordeiros”

 

Renan deee

 Renan Santos (de amarelo, em pé) durante manifestação deste domingo na Avenida Paulista: o novo está nas ruas

Aos 31 anos, Renan Santos, pequeno empresário da área audiovisual, é um dos mais “velhos” do MBL, o Movimento Brasil Livre: ele “já” tem 31 anos. A ironia não deixa de fazer sentido referencial quando se lembra que a face mais conhecida do movimento, Kim Kataguiri, tem… 19! Junto com outros movimentos, como o Vem Pra Rua, eles causam certa confusão na cabeça dos sedizentes movimentos sociais, dos políticos e, mais do que em todas as outras áreas, da imprensa.

Pra começo de conversa, são liberais assumidos, com bibliografia e tudo, o que falta ao jornalismo, na média — nesse caso, falta também a bibliografia de esquerda. O MBL quer debater o tamanho e a função do Estado, mas os/as jornalistas querem falar de bicicleta… O MBL vai às ruas para defender a autonomia que tem o Congresso para depor um presidente da República que cometeu crime de responsabilidade, mas a repórter isenta quer falar sobre AI-5, porque, afinal, hoje é 13 de dezembro e, em 1968,  há 47 anos, o regime militar deu um golpe dentro do golpe para anular o Congresso.

A extrema esquerda está perplexa com eles. Em pouco mais de uma semana, MBL, Vem Pra Rua e outros grupos conseguiram promover manifestações em 100 cidades — 23 capitais, incluindo Distrito Federal. As terias conspiratórias se multiplicam: seriam a direita, os conservadores, os financiados pela CIA e por terríveis forças internacionais. As suspeitas seriam engraçadas se não fosse patéticas. Ainda voltarei a esse aspecto.

Abaixo, segue uma entrevista que fiz por telefone com Renan Santos. No dia em que o MBL e outros movimentos realizaram o prodígio de promover manifestações em uma centena de cidades, tendo para isso uma semana de preparação, o que vejo é a imprensa coalhada com a versão oficial do governismo atestando o suposto insucesso do movimento.

Digo mais uma vez: a imprensa precisa tomar cuidado para não acabar antes do PT. Já nasceu uma sociedade que não aceita mais ser encabrestada por milicianos. A maioria antes silenciosa agora fala. Segue a entrevista com Renan. Ele e seus parceiros de luta, para usar uma expressão lá dos anos 1960, “fundem a cuca” das esquerdas das redações.

BLOG – O governismo está dizendo que a manifestação deste domingo foi um insucesso porque levou menos gente para as ruas do que das outras vezes.
RENAN SANTOS – Eu me surpreenderia se eles dissessem o contrário. O governo dizer isso é o esperado. Lamentável é que existam analistas na imprensa afirmando a mesma coisa. Desde o primeiro dia, gente deixou claro que o ato deste domingo era só uma preparação para a grande mobilização do ano que vem, que já está marcada para o dia 13 de março.

O público correspondeu à expectativa de vocês?
Nós não estabelecemos uma meta. Não somos a Dilma (rsss). Tivemos pouco mais de uma semana para fazer a convocação e para organizar os protestos. Ora, eles aconteceram em pelos menos 100 cidades, ainda é um levantamento preliminar, e 23 capitais, incluindo O DF. Até o Datafolha está falando em mais de 40 mil pessoas. Eu, pessoalmente, fui positivamente surpreendido. Acho que a turma toda do MBL e dos outros grupos pensa o mesmo.

E como vê essa reação do governo?
Essa gente fala qualquer coisa, né? A imprensa deveria parar de pedir que os lobos deem a sua opinião sobre os cordeiros. Não pega bem.

Ainda estão tentando jogar Eduardo Cunha no colo de vocês?
A população nas ruas? De jeito nenhum! Isso é coisa de intelectuais de meia-tigela, dos blogs financiados pelas estatais e, infelizmente, de parte da imprensa que já foi grande um dia, mas que demonstra ter um hoje um espírito nanico. Cunha deu início à tramitação da denúncia que pode resultar no impeachment porque é o presidente da Câmara. Queriam que a denúncia fosse apresentada a quem? Ao Espírito Santo? Aliás, se Rodrigo Janot tivesse coragem, ele apresentaria a denúncia contra Dilma ao Supremo. Nem precisaria passar por Eduardo Cunha.

O Brasil melhora se Dilma sair?
Em qualquer hipótese, acho que sim. Seja com a posse de Michel Temer; seja com novas eleições, caso a chapa toda seja impugnada pelo TSE nos dois primeiros anos; seja com uma eleição via Congresso se o TSE decidir a cassação nos dois anos finais.

Mas Dilma é o problema? As dificuldades desaparecem sem ela?
Sim, em primeiro lugar, ela é um problemão, mas não o único. As dificuldades não desaparecerão automaticamente, mas diminuirá brutalmente a crise de confiança. É claro que nada será fácil para quem assumir. O problema é que, com a Dilma, nem se começa a andar.

Como vocês respondem à crítica de que não se pode derrubar uma presidente só porque ela é incompetente?
Quem disse que é por isso? O MBL quer a Dilma fora porque ela cometeu crime de responsabilidade, não porque ela é incompetente.

Quando Collor caiu, você era uma criança. Leu a respeito daqueles dias? Vê alguma diferença importante entre os períodos?
Vejo, sim. A imprensa era unanimemente contra Collor. As razões para Collor cair eram menos claras, embora justificadas, do que as de Dilma. Hoje em dia, mais apanhamos nós, que pedimos o impeachment, do que os que saem gritando “fica Dilma”, com verba oficial.

Não há um pouco de exagero nisso?
Exagero? Hoje, uma repórter veio nos perguntar como nos sentíamos de promover uma manifestação pró-impeachment no aniversário no AI-5… Fui chamado de otário por uma jornalista. Parecia que estávamos lá comemorando o fechamento do Congresso. Mas a gente estava fazendo justamente o contrário: pedindo para o Congresso cumprir a sua função. A abordagem é desonesta.

Dilma vai cair?
Se triunfar a lei, vai. O impeachment está na Constituição. É a pena que se prevê para quem comete crime de responsabilidade. Dilma cometeu crime de responsabilidade. Logo, ela tem de cair. O que há de tão incompreensível nisso? Dois terços dos brasileiros já entenderam e concordam.

Se Michel Temer assumir, o MBL vai apoiar o governo?
A gente nem apoia nem desapoia governos. Nós apoiamos ou combatemos ideias, propostas, medidas. Se Temer assumir e, dentro dos seus limites, encaminhar uma agenda que consideramos correta, contará com o nosso apoio a cada caso, em medidas pontuais. Se fizer o contrário, então será o contrário. Não somos um partido. Não temos base parlamentar. Os que estão conosco estão afinados com o que pensamos. Somos um movimento identificado com as teses liberais em economia. Queremos um estado regulador, disciplinador, mas não um estado empresário. Queremos uma cultura política que incentive o mérito, a competência, a eficiência. Queremos uma política social que atenda aos setores vulneráveis da sociedade, mas que não os torne dependentes de uma máquina eleitoreira. Se Temer ou qualquer outro for nesse sentido, vamos elogiar. Se for em sentido contrário, vamos criticar.

Você disse que o MBL não é um partido. Será algum dia?
Não sei. Teremos candidatos com a nossa marca disputando eleições já no ano que vem. Poderão estar em várias legendas, mas representando os valores e as ideias do MBL. E não vai ser nada clandestino. Todos saberão disso.



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