Adam Smith foi parar na greve dos caminhoneiros? Pois é… Acreditem! Isso está acontecendo. Não deixa de ser uma boa notícia, não é mesmo? Ainda que seja um Smith lido, vamos dizer, com muita largueza.
Embora negue, o governo acompanha com preocupação o anúncio de uma greve de caminhoneiros, liderada pelo “Comando Nacional do Transporte”. Ainda que a categoria tenha reivindicações específicas, os que lideram essa mobilização deixam claro que querem mesmo é que Dilma Rousseff deixe o governo, por meio da renúncia ou do impeachment.
No fim de semana, houve manifestações em cidades do Paraná. Na madrugada desta segunda, já havia bloqueios em estradas de Minas e Santa Catarina. Ivar Schmidt, um dos líderes do movimento, divulgou um vídeo em que pede o apoio da população. Num outro, o CNT anuncia: “Lutamos por instituições livres e em paz”. E aparece um caminhão com a seguinte inscrição: “Chega de corrupção. Fora! A Petrobras é nossa, não é do PT”.
O movimento dos caminhoneiros recebeu o apoio de praticamente todos os grupos que lutam pelo impeachment de Dilma, como o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua.
Áudio
Agora ouçam este áudio.
Um caminhoneiro conversa com o que se supõe seja um outro, parceiro de trabalho, e anuncia:
“Gláucio, não se preocupa, não. A coisa agora extrapolou o Facebook, filho. (…) Já está todo mundo parando. (…) A gente é o primeiro dominó daquela brincadeira de derrubar os dominós em pé um atrás do outro, enfileirado. A gente é o estopim da coisa.
(…)
Existe uma mão invisível que é mais poderosa do que qualquer governo e age em todos os países, que se chama mercado. A partir do momento em que situações assim afetam diretamente o mercado, a ponto de prejudicar financeiramente, e em grade vulto, toda a cadeia produtiva, o próprio mercado vai agir, e o próprio mercado vai caçar a cabeça da Dilma. O próprio mercado vai forçar a renúncia ou a deposição dela… (…) A gente é só o estopim de toda paralisação nacional”.
“Mão invisível”, como vocês devem saber, foi uma expressão a que recorreu Adam Smith em “A Riqueza das Nações”. Acabou virando a festa da uva. Uns empregam a expressão para indicar o que seria a tendência que tem o mercado ao equilíbrio — o que não está escrita lá. Outros se prendem à expressão para recusar qualquer regulação, já que a “mão invisível” se encarregaria de produzir o melhor para todos. Também não é isso.
Na obra, a expressão tampouco tem a ver com a interpretação que lhe dá o líder caminhoneiro: uma vontade superior que decide e dirime todas as dúvidas. A “mão invisível” de Smith pode ser assim resumida, segundo o que vai na obra: quem, na sociedade, age em defesa de seu próprio interesse — atenção, isso nada tem a ver com pistolagem à moda petrolão — acaba concorrendo para o bem geral, tangido por essa mão invisível que leva o indivíduo a promover um bem que nem estava na sua intenção original.
Assim, não se duvide de que o Adam Smith que serve para eventualmente derrubar governos não chega a ser um louvor à teoria. Mas querem saber? Haver movimentos sindicais e sociais que falam na “mão invisível do mercado”, e não nas mãos que se grudam para ordenhar as tetas do Estado, é sinal de que algo de positivo está em curso no país.
É esse o país que o PT já não consegue entender. E, por isso, Lula não vai voltar. Por isso, Lula está morto.
from Reinaldo Azevedo http://ift.tt/1HpsRGF
via IFTTT
Nenhum comentário:
Postar um comentário