Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, tem de saber que já chegou a hora. Aliás, já passou da hora. Não há mais dúvida jurídica possível. Ou ele concorda com os termos apresentados na denúncia de Hélio Bicudo, Janaina Paschoal e Miguel Real Jr. e a aceita, ou deles discorda e a rejeita. Ponto final. A cada hora, a partir desta segunda, o que se tem é só procrastinação, aumentando a suspeita de que algo de tamanha magnitude — a possibilidade do impeachment — está sendo usado, no fim das contas, apenas para que ele tente salvar a própria cabeça.
O Movimento Brasil Livre lidera um acampamento nos gramados do Congresso em defesa do impeachment — o que passa, obviamente, pela decisão de Cunha. Um grupo de delinquentes, vestindo camisetas do MTST, invadiu a área na semana passada para espancar moças e rapazes que lá estavam. Neste domingo, houve uma nova provocação, desta feita sem escaramuças porque a forte presença da Polícia Militar do DF inibiu os trogloditas..
Os defensores do mandato de Dilma e da alta moralidade do seu governo voltaram a pedir a cabeça de Cunha e queimaram um boneco representando o presidente da Câmara. Repararam, diga-se, como esquerdistas gostam de fogo? Queimam bonecos, queimam bandeiras, queimam pneus, queimam ônibus… Qual será a razão? Vai ver é porque o fogo, mais do que qualquer outro evento, traz a ideia da destruição total, irrecuperável, irrecorrível. E isso combina com as taras totalitárias da esquerda.
Ontem, diga-se, durante a manifestação do MTST, foi preciso, sim, que a polícia interviesse, mas para conter uma briga lá entre eles, com direito a voadora, sangue jorrando, essas coisas. Quando os valentes não podem bater nos outros, trocam sopapos entre si.
Volto a Cunha
Não há mistério nenhum na denúncia entregue por Bicudo e pelos dois juristas. Os argumentos são sólidos, claros, transparentes. Não requerem grandes voos interpretativos, dadas as evidências de que Dilma cometeu crime de responsabilidade.
Mas Cunha pode achar que não. Pois, então, que diga. O movimento cívico que está no gramado do Congresso não pode ficar esperando indefinidamente a decisão do presidente da Câmara. Essas pessoas representam hoje o que o Brasil tem produzido de melhor na mobilização da opinião pública.
É preciso que Cunha decida para que eles saiam de lá: se ele disser “sim”, sairão com um discurso; se disser “não”, é claro que a fala será outra. Nos dois casos, será preciso conversar com a sociedade brasileira para mobilizá-la. Cunha não tem o direito de tornar o Brasil virtuoso refém de um tempo que só interessa a si mesmo.
Se é que interessa… Ainda que seus argumentos venham a convencer a maioria de seus pares na Câmara, coisa de que duvido um pouco, será preciso convencer os ministros do Supremo. E, nesse caso, a tarefa me parece bem difícil. Ou Cunha vai se confrontar com suas explicações no STF — se for deputado à época do julgamento — ou será na 13ª Vara da Justiça Federal, em Curitiba.
Dê ele sequência ou não à denúncia contra Dilma, essa escrita não muda. Para encerrar, noto: achei engraçada uma análise que li, segundo a qual o presidente da Câmara tem a certeza de que, caso opte pelo “sim”, a oposição o abandona em seguida… É mesmo? E se ele disser “não”, ela ficará com ele? “Ah, mas aí os petistas ficariam…”, poderia dizer alguém.
Ora, o deputado sabe que, no PT, trair um acordo é questão de princípio. Não vou aqui dizer que Cunha tem a chance da redenção e coisa e tal… Melhor deixar isso com Deus. Sou bem mais modesto: ele tem a chance de fazer a coisa certa, acolhendo a denúncia. E deixe que o Congresso faça a sua análise.
Não há nenhuma razão aceitável para que não tome essa decisão até sexta-feira. O Espírito Santo não vai baixar no Congresso para interceder. Até porque, se fosse se manifestar entre nós, a Pomba Sagrada certamente escolheria um local mais salubre.
Cunha não pode confundir a sua história pessoal com a do país. Nem “sim” nem “não” à denúncia mudam a sua situação objetiva. O STF fará o que a Câmara eventualmente não fizer.
Chega, deputado! A hora é agora.
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