O ministro Joaquim Levy tem lá o seu viés cômico. Os humoristas, como sempre, percebem primeiro. O genial Márvio Lúcio, o Carioca do “Pânico”, faz uma excelente imitação: a língua meio presa, a fala pra dentro, o ar meio tímido, o olhar de quem mais espia do que vê, a fala com acento tecnocrático, uma certa ingenuidade de quem acha que também em política dois mais dois são quatro…
O ministro participou nesta terça de uma solenidade no Itamaraty e depois foi para o Congresso. E resolveu sugerir, ora vejam, uma espécie de enquete sobre a CPMF. É claro que ele estava apelando, vamos dizer assim, a certo humor de sotaque britânico. Em conversa com jornalistas, sugeriu, segundo informa a Folha:
“Os jornais poderiam fazer uma enquete. Perguntar assim: o que você não gosta da CPMF? Você não gosta porque ela é transparente? Você não gosta porque ela é fácil de recolher? Você não gosta porque ela alcança todo mundo? Ou porque é mais um imposto?”
Eita!
Fiquei aqui a imaginar Levy como diretor do Datafolha ou do Ibope. Pergunta para testar o humor dos brasileiros: “Você não gosta do governo Dilma por causa do Bolsa Família, do ProUni ou do Minha Casa Minha Vida?”
A coisa tem lá a sua graça, mas também traduz um viés autoritário do ministro. Por quê? Observem que ele acha que só é possível recusar a CPMF por maus motivos: ou o sujeito é contra a transparência, a funcionalidade ou a universalidade do imposto ou, então, é favorável. Ou por outra ainda: gente que defende aqueles princípios apoia necessariamente a cobrança. Aí Levy perde a graça desengonçada. E sobra apenas o desengonço.
Notem que ele faz uma pergunta descolada do paradigma das perguntas marotas: “Ou [você é contra a CPMF] porque é mais um imposto?”.
Esta poderia ser, obviamente, a resposta de milhões de pessoas: sim, somos contra porque é mais um imposto. Mas não só isso! É que achamos que já pagamos impostos demais; é que avaliamos que o governo gasta mal o dinheiro que arrecada; é que não queremos financiar ainda mais a farra; é que não aceitamos mais esse estelionato eleitoral — já que a candidata Dilma afirmou que não haveria CPMF.
Diante dessa resposta, talvez Levy, então, lembrasse que, sem o imposto, tudo pode ser pior; as agências de classificação de risco rebaixarão o país etc. Ou por outra: a cobrança se transformou em programa de governo.
E um governo que conta com o ovo na barriga da galinha. Nesta segunda, Dyogo Oliveira, o número 2 do Ministério do Planejamento, afirmou o seguinte à Folha:
“A gente conta com um conjunto de medidas de receitas, entre as quais a CPMF, para fechar o superávit de 2016. Sem essas receitas, realmente não há como ter um resultado muito bom em termos fiscais em 2016. Tem que aprovar a CPMF”.
Ok. Então Dilma que tenha a coragem de falar com a sociedade. Na base da piadinha sem graça, nada vai passar.
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