Chega a ser comovente o modo como os tolos saem por aí a exercitar teorias conspiratórias. Nesta madrugada, publiquei dois textos sobre o que está se afigurando, infelizmente, inevitável: o financiamento público de campanha e o voto em lista fechada.
Aí, os vigaristas leram a seguinte notícia nos sites noticiosos:
“As principais lideranças do Congresso se reuniram neste domingo na residência oficial de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e discutiram, entre outros assuntos, mudanças no sistema eleitoral. No encontro, Maia defendeu o voto em lista fechada como saída. Disse, também que já há ambiente na Câmara para retomar o assunto. A proposta já foi derrotada em 2015. A avaliação dos parlamentares é a de que, sem recursos de empresas, o financiamento das eleições de 2018 será uma incógnita. Estavam no encontro o presidente do Senado, Eunício Oliveira, os senadores Renan Calheiros, José Agripino e Aécio Neves. Da Câmara, estava o líder do governo Aguinaldo Ribeiro. O ministro Moreira Franco, da Secretaria de Governo, o ministro do STF Gilmar Mendes e a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, também passaram pela residência oficial de Maia ontem.”
Tese dos imbecis: o meu texto seria parte de uma grande conspiração em favor do voto em lista e do financiamento pública.
De vigaristas, esperam-se vigarices, não? Jaqueiras dão jacas.
Eu nem sabia àquela hora que tal reunião estava em curso. Secreta, obviamente, ela não seria, ou será que alguém consegue esconder da imprensa um encontro daquela natureza, com aquelas personagens? Como se vê, também não se tentou maquiar o que está em debate.
O certo
É claro que defendo a doação de empresas a campanhas, o que não quer dizer sinônimo de crime. Mas cabe a pergunta: há ambiente para isso?
Dia desses, Roberto Barroso, ministro do Supremo — principal artífice daquela votação absurda na Casa, que decidiu, por 8 a 3, que as doações privadas eram inconstitucionais —, chegou a sugerir a volta das doações privadas, mas as empresas que o fizessem ficariam impedidas de manter qualquer relação com entes estatais.
Pergunta óbvia: por que alguém entraria no rio, com o intuito de sobreviver, mas amarrando uma pesada pedra ao pescoço? Sem contar, né?, que, se existe o ânimo para a malandragem, a empresa doa pelo caixa dois àquele que sabe que será o vitorioso e pelo caixa um ao futuro perdedor… Entenderam?
O ministro Roberto Barroso acha que inventou um sistema que dá ao perdedor as batatas…
Alternativa
Ate os estudantes do Enem são obrigados a apresentar soluções para os problemas que apontam em suas dissertações, certo?
Quem tiver vergonha na cara fará precisamente isto:”o que temos não serve; o financiamento privado conduz à safadeza, e sou contra dinheiro púbico repassado a cartório partidário. A proposta boa é…”
Qual é a proposta boa?
Falei com o comandante de um potentado nacional. Sempre doou, diz ele, pelo caixa um, com registro. Escolhia candidatos identificados com os valores da empresa: defesa do livre mercado, da democracia política, da institucionalidade…
Aí ele descobriu que foram esquadrinhar cada projeto apresentado pelos eleitos que tinha recebido doação oficial do grupo para saber se beneficiavam ou não o setor em que o grupo atua. Disse-me ele: “Não encontraram nada! Mas sei que não vão descansar.”
Isso quer dizer o seguinte: a doação pelo caixa oficial já se transforma no primeiro passo de um processo de investigação.
O que acho?
Ah, eu já disse: acho trágico! No meu caso, a consternação é até um pouco mais profunda porque alerto desde 2005 para essa conversa.
Quem sabe, no dia 26, os movimentos de redes defendam a volta do financiamento privado, né? Acho difícil, mas… Afinal, o MPF e a Lava Jato são contra.
E são raros os que topam, para citar Bocage, “arrostar co’o sacrílego gigante”.
A covardia loquaz é mais segura.
Arquivado em:Brasil, Política
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