Até que enfim!
Vamos dar graças às Outras Esferas — não “aos céus” porque não somos desses que ignoram evidências…
“Aleluia!”. Ops! “Aleluia?” Que não-humano teria soprado tal coisa a nossos ouvidos ancestrais?
Eu sempre soube que chegaria o dia em que a Câmara de Vereadores de São Paulo faria algo de útil. Em que ao menos uma ideia original brotaria naquela terra salgada… E aconteceu.
A Casa abriga, por iniciativa do vereador Toninho Paiva (PR) — mas, que se saiba, sem nem uma ironia dos outros 54 —, um, atenção para o nome!, “Seminário Científico Sobre Extraterrestres do Nosso Passado”. Gosto de palavras. Palavras devem ser degustadas. O seminário restringe a coisa ao “nosso passado”. Uma das hipóteses, consta, é que Moisés, Cristo e Maomé já eram, a seu tempo, como posso dizer?, “contatos” de seres que a tudo viam fora da Terra.
Agora as coisas ficam mais claras. A cada vez que Moisés achou que Deus estava lhe dando uma instrução, não era Deus, não! Isso explica os efeitos especiais dos Dez Mandamentos cravados na pedra. Eu sabia que a performance, como direi, “fotolítica” (radicais gregos: foto = fogo ou luz; lito = pedra) trazia um avanço tecnológico que não poderia ter brotado naquele solo ressequido…
Com Jesus, foi a mesma coisa. Aí os ETs já eram mais discretos. Falavam diretamente à consciência. E está explicado o fenômeno da concepção assexuada de Maria. Não era milagre de Deus, mas obra da tecnologia. Durante parte da idade Média, acreditava-se que os urubus fossem inseminados pelo vento. Houve até correntes heréticas que tentaram explicar assim o Milagre da Concepção. Foram duramente combatidos porque não ficava bem associar a mãe de Cristo a um urubu.
Com Maomé, as coisas se complicaram um pouco. Não é que o chip do ET não fosse bom. Era… Mas o chipado era um pouco rebelde. Consta, por exemplo, que a palavra “Jihad” queria dizer mesmo só um “esforço especial”, uma “dedicação”, uma “obstinação branda”. Mas o Profeta gostava de ação.
E foi assim que chegamos aos dias atuais.
Bem, eu não me oponho a seminários sobre ETs na Câmara de Vereadores. A rigor, vamos convir, a quase totalidade dos que estão lá não pertence mesmo a este planeta, certo? E não descarto que possa haver outros abduzidos.
Mas sou um sujeito progressista e pluralista e reivindico agora um seminário sobre ETs, mas com sotaque de esquerda.
Novo seminário
Espero que os esquerdistas da Câmara (sobraram alguns por lá?) organizem agora um colóquio sobre o “Posadismo”, uma corrente revolucionária iniciada por J. Posadas (1912–1981) — pseudônimo do argentino Homero Rómulo Cristalli Frasnelli —, que preconizou o socialismo intergaláctico. Não vou achar agora, mas prometo procurar. Tenha aqui na minha biblioteca um livro sobre os fundamentos do posadismo.
Sabem como é… O homem foi jogador de futebol e depois acabou sapateiro e líder sindical da categoria. Aí um daqueles que falaram com Moisés, Cristo e Maomé resolveu chamar, só não sei se com a voz grave de Deus ou metalizada dos ETs: “Homero, Homero…” E teve início, então, a seção posadista da IV Internacional comunista. Uma verdadeira Odisseia dos outros mundos.
O ET que falava com Posadas era muito doido… Como dizia uma vizinha da minha mãe, devia consumir “tóchico” — lê-se… “tóchico”). O homem estava convicto de que a hecatombe nuclear, que devastaria a humanidade, era inevitável, mas que nem isso destruiria os valores do socialismo.
Segundo Posadas, seríamos socorridos pelos… ETs, aqueles que abriram o Mar Vermelho para Moisés, que curaram Lázaro e que definiram para “O Profeta” o Sol como “Siraj” (“o que ilumina a si mesmo”) e “Uahaj” (“línguas de fogo”) — e o Astro-Rei não é exatamente isso, como concluíram os cientistas?
Finalmente, um pouco de verdade na Câmara dos Vereadores de São Paulo!
Nota: há seres por lá que, com efeito, parecem de outro planeta. Mas, se você com descender em ser um empirista raso, acabará concluindo que são humanos…
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