Ora, ora…
Leio na Folha que integrantes da Carne Fraca defendem a operação e que ainda há provas sob sigilo.
Bem, é claro que são pessoas sem nome, não é?, que só aceitam falar em Off. E vêm com a cascata de que “o tempo dirá”. Como é? Um ato destrambelhado corre o risco de fazer o país mergulhar numa crise precedentes num setor vital, e devemos dizer tudo para que o tempo esclareça? Quem essa gente pensa que é?
Ademais, ainda que se comprovassem centenas de fraudes aqui e ali, qual é o papel do órgão investigador? Criar uma comoção no setor. Paralisar uma cadeia produtiva que, ademais, diz respeito a milhares de produtores e de trabalhadores?
“Então não se faz nada em nome da economia do Brasil e dos empregos, Reinaldo Azevedo?” Ora, que bobagem! É claro que sim. Mas que se façam as coisas com decência e método. Sim, há “offs” para todo lado. Há profissionais de ponta da PF que estão furiosos com o amadorismo da turma.
Mas é preciso compreender a coisa no seu contexto. É preciso que fique claro que estamos diante de uma cultura, que não é recente.
Essa Polícia Federal midiática, que se paramenta de negro e sai por aí como Robocop, arregaçando com tudo, tem história. Começou no primeiro governo Lula, quando o ministro da Justiça era Márcio Thomas Bastos.
Eu me lembro bem da prisão da empresária Eliana Tranchesi, que morreu em 2012. Era julho de 1995. Eu estava ainda no site e na revista Primeira Leitura. A VEJA só passou a hospedar meu blog em junho de 2006.
Pois bem: desde o primeiro momento, não tive a menor dúvida de que, com efeito, a Daslu de então recorria a artifícios criminosos para sonegar impostos. Isso ficou comprovado depois. Não há dúvida sobre o que aconteceu por lá. E eu aplaudi a PF e a Receita Federal pela operação.
Mas eu também censurei vivamente o espetáculo dado pela Polícia Federal. Eliana foi surpreendida, ainda de camisola, ao raiar do dia, em sua casa, com luzes, câmera e ação na sua cara. Os robocops estavam armados até os dentes. Quem visse a coisa iria pensar que a mulher dispunha de um exército de mercenários para defendê-la.
E eu me lembro de Lula a usar Eliane como exemplo. Disse algo assim: “Rico ou pobre, que todo mundo ande na linha, porque acabou esse negócio de só prender pobre, preto e puta no Brasil”. Pode não ter sido com tais palavras, mas esse era o sentido.
Lembro da reação rancorosa do petismo ainda dos primeiros anos de governo e de certo alarido que foi criado. Porquie a Daslu havia sonegado? Não! Porque, afinal, via-se uma ricaça, que só vendia roupas para a Dona Zelite, ser conduzida coercitivamente à política e, depois, presa. Em 2008, já mais adiante, o ex-prefeito Celso Pitta foi preso em casa, de Pijama, também numa grande operação, para a qual a imprensa havia sido previamente chamada.
Os trouxas que agora afirmam que mudei de posição sobre isso e aquilo deveriam procurar nos arquivos o que escrevi em todas essas circunstâncias. Apoiava, obviamente, as investigações e o rigor máximo, como faço com a Lava Jato, mas não os arreganhos autoritários porque, afinal, FULANO E FULANA são ricos e têm mais é de ser humilhados.
Essa paixão da PF pelo espalhafato vem desse tempo; de um tempo em que o órgão serviu como uma espécie de Polícia Política do PT, como ficou evidente com a Operação Satiagraha, conduzida pelo notório delegado Protógenes, que depois se elegeu deputado federal pelo… PCdoB!!!
Até onde sei, os alinhamentos partidários por lá andam esmaecidos. Tomou corpo o sentimento de onipotência; de que tudo lhes convém e lhes é permitido, como não recomendava São Paulo, o Apóstolo, porque, afinal, junto com o Ministério Público, sua função seria depurar a política.
Se tiverem de quebrar o país para que isso aconteça, por que não?
Afinal, este há de ser um país em que os ricos também choram. Poderíamos tentar eliminar os motivos que fazem chorar os pobres. Mas isso daria muito trabalho…
Arquivado em:Brasil, Política
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