Guilherme Boulos deve estar mais feliz do que pinto no lixo ou do que sádico em presídio rebelado. Finalmente, ele foi detido. Finalmente, ele pode dizer, mistificando a própria biografia, que viveu o seu dia de preso político.
Vamos ver. O chefão do MTST e de outros ditos “movimentos populares” foi detido na manhã desta terça. Já está solto. Boulos comandava a resistência a uma reintegração de posse, realizada pela Polícia Militar em terreno particular, localizado na Rua André de Almeida, em São Mateus, na zona leste de São Paulo. Com ele, foi preso ainda um dos invasores da área, José Ferreira Lima, também já libertado.
Os dois assinaram um termo circunstanciado, em que são acusados pelos policiais de “participar de ataques com rojão contra a PM, incitação à violência e desobediência”.
Bem, dizer o quê?
Ele nega, claro!, que tenha cometido qualquer uma dessas transgressões. O inquérito vai apurar a sua atuação, e, a depender do desdobramento, a Justiça vai dar seu veredito. Não quero me arvorar nem numa coisa nem noutra. O que faço é expressar uma convicção. E estou convicto de que ele é culpado.
Não preciso apelar à sua biografia de líder contumaz de manifestações violentas para fazer essa aposta. Não preciso apelar aos textos que escreve, em que evidencia seu solene desprezo ao Estado de Direito, para expressar essa opinião. E, por óbvio, não foi necessário ser testemunha ocular dos fatos.
É a fala de Boulos que me diz ser ele culpado.
É o comunicado do MTST, do qual ele é chefe máximo, que me diz ser ele culpado.
A Folha, jornal em que ambos escrevemos — ele na versão online — publica uma reportagem sobre o episódio. Confiram. Não estou sugerindo a existência de um viés deliberado, mas resta claro que o espaço destinado à versão de Boulos é bem mais generoso. Logo, se há alguma distorção ali, tudo indica, ela contaria em favor do “líder”.
Escreveu o movimento — prestem atenção!: “O companheiro Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, que estava acompanhando a reintegração de posse da ocupação Colonial, visando garantir um desfecho favorável para as mais de 3.000 pessoas da ocupação, acaba de ser preso pela PM de São Paulo sob a acusação de desobediência civil (…). Não aceitaremos calados que além de massacrarem o povo da ocupação Colonial, jogando-o nas ruas, ainda queiram prender quem tentou o tempo todo e de forma pacífica ajudá-los.”
Que homem bom é esse Boulos! Ele estava lá apenas para garantir o “desfecho favorável” aos pobres. E o movimento dá a entender que foi preso por isso. Bem, aí já estamos numa outra categoria: mentira! E, ora vejam, a Polícia Militar, que reagiu às agressões que sofreu, é acusada de promover um “massacre”. A propósito: onde estão os feridos?
Como se nota, o MTST vê o seu líder numa luta do Bem contra o Mal, do povo contra os seus algozes, das vitimas contra seus verdugos. Ora, em situações assim, como se sabe, todos os meios passam a ser considerados lícitos.
Mas atentemos ao que afirma o próprio Boulos: “Foi uma prisão política. Eles alegaram incitação à violência. Eles despejam 700 famílias com violência, e eu que incitei a violência?”
Eis a lógica canhestra da falsa vítima, do falso inocente. Quem é este “eles”? Os PMs cumpriam uma ordem judicial, sobre a qual não cabe arbitragem. Os policiais eram apenas executores de uma decisão tomada pelo Poder Judiciário.
Protegidos por barricadas, os invasores, sob a clara condução, orientação e liderança de Boulos, passaram a atacar os policiais. Uma das fotos registra o líder do MTST atrás de uma coluna de fogo — será essa uma das evidências de seus métodos pacíficos?
Boulos disse mais: “O MTST estava lá para garantir o direito das pessoas que estavam sendo despejadas, buscar uma saída negociada. A Tropa de Choque avançou, jogou bombas e querem encontrar um culpado.”
Um fato: a PM reagiu ao ataque. Ao dar início à execução da reintegração, os policiais foram agredidos. E fizeram o óbvio: reagiram para garantir a ordem e para se defender.
Mais: no Estado de Direito, o “direito” não é aquele que eu acho que tenho, mas aquele que as instituições e as leis asseveram que tenho. Ao contrário do que afirma Boulos, a Justiça decidiu que o direito sobre o terreno, por óbvio, pertencia ao proprietário, não aos invasores. Ainda que o Ministério Público tivesse recorrido da decisão judicial, a ordem continuava em vigor, e só a Justiça poderia determinar que a PM não a executasse.
De resto, não existe “saída negociada” contra o cumprimento da lei. Ela consistiria exatamente em quê? Seria a não-execução da decisão judicial? Ora, ocorre qye isso não seria “negociação”, mas a vitória do ato criminoso — a invasão — sobre a o direito e a lei.
Lula, Dilma, Eduardo Suplicy, Ivan Valente e até um tal rapper chamado “Emicida” já se manifestaram contra a PM, claro! Agora só faltam o Wagner Moura, a Letícia Sabatella, o Caetano Veloso, o Chico Buarque, o Fernando Morais, a Marilena Chaui, o Antonio Candido e a Camila Pitanga.
É claro que Boulos está feliz e é evidente que ele vai forçar a mão para ser preso em eventos semelhantes. Isso é parte da caracterização do herói, que se prepara para voos eleitorais e eleitoreiros.
A PM não deixou de lhe prestar um pequeno favor. Mas não tinha alternativa. Às vezes, é preciso, sim, prender os transgressores, mesmo quando estes se esforçam de forma determinada para isso.
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