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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O Brasil, o muro e um ato símil à declaração de guerra

As pessoas mandam as maiores porcarias para nossos endereços eletrônicos, não é mesmo? O sujeito descobre o telefone de um vivente e dispara uma boçalidade qualquer por WhatsApp. Ou ela chega por e-mail. Nas redes sociais, então, o capeta dá as cartas.

Um desavisado me envia um troço de um cretinismo ímpar. Atacava José Serra, ministro das Relações Exteriores, porque o Itamaraty emitiu uma nota — bastante comedida, diga-se — expressando preocupação com a decisão de Donald Trump, presidente dos EUA, de construir um muro na fronteira com o México.

Reproduzo o texto do Itamaraty: “A grande maioria dos países da América Latina mantêm estreitos laços de amizade com o povo dos Estados Unidos. Por isso, o governo brasileiro recebeu com preocupação a ideia da construção de um muro para separar nações irmãs do nosso continente sem que haja consenso entre ambas. O Brasil sempre se conduziu com base na firme crença de que as questões entre povos amigos — como é o caso de Estados Unidos e México — devem ser solucionadas pelo diálogo e pela construção de espaços de entendimento.”

O que há de errado com a nota? Segundo o bobalhão que mandou a mensagem, Serra foi militante de esquerda, é esquerdista ainda e teria levado o Brasil a reagir por razões ideológicas.

É de uma boçalidade ímpar.

Vamos pôr os pingos nos is. Um governo que decide construir unilateralmente um muro — e anunciando que o outro lado vai pagar — comete um ato de extrema hostilidade. É um ato vizinho da declaração de guerra. Até porque, não custa notar, qual é o elemento aparentemente ausente, mas muito presente, na decisão unilateral? Respondo: os EUA têm a força militar, não? E se o México não aceitar a construção? Essa hipótese nem se coloca. Se a ideia prosperar, terá de aceitar.

É evidente que a decisão não hostiliza apenas o país vizinho. Estamos diante de uma expressão de hostilidade ao “outro”, a qualquer “outro”. Na verdade, é o Maluco alaranjado contra o mundo.

Departamento de Estado A reação mais forte, é bom notar, partiu de dentro da “América”. Patrick Kennedy, subsecretário de Estado para Assuntos Administrativos, e três de seus principais assessores renunciaram. São diplomatas de carreira. Já trabalharam para republicanos e democratas. Não querem saber de Trump.

E não parece que o futuro seja especialmente sorridente para a “Grande América”. Os áulicos são trogloditas como o líder. Stephen Bannon, o estrategista-chefe de Trump, concedeu uma entrevista ao New York Times e afirmou que “a mídia deveria estar envergonhada e humilhada e deveria ficar de boca fechada e só ouvir por um tempo”.

São uns irresponsáveis. Acham que governar os EUA se resume a promover uma guerra nas redes sociais para ver quem fala mais grosso. Trump nunca foi flor que se cheirasse, não é? A campanha eleitoral o tornou ainda mais tosco. Carregou nas tintas da estupidez e percebeu que isso atraía público e votos.

Agora, ele é presidente de todos os americanos. E tem a responsabilidade que têm os EUA na segurança global. Em vez de buscar falar para todos, ele continua empenhado em excitar a sua grei de brucutus.

O que me conforta de antemão?

Ele não vai chegar ao fim do mandato, aposto.

 


Arquivado em:Blogs, Mundo


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