É claro que gostei do discurso do presidente Michel Temer na ONU. Basta comparar com o que se viu e ouviu em pelo menos 13 outras jornadas, quando o petismo, julgando-se uma força inaugural da civilização, assumia aquele lugar para anunciar redenções que não vieram, para fazer discurso terceiro-munidsta mixuruca e para se solidarizar com todos os ditadores do planeta, desde que estes se anunciassem defensores de uma nova ordem mundial.
Temer não fez nada disso, o que reflete, felizmente, uma clara mudança nos rumos da política externa brasileira. Sim, o presidente brasileiro destacou as assimetrias que marcam o mundo; lembrou ainda uma vez que o Brasil aspira a uma condição diferente daquele que ocupa hoje naquele organismo; acusou a letargia dos organismos multilaterais diante de guerras cruéis, mas não cedeu à estupidez que marcou a política externa do país por mais de 13 anos, a saber: tudo se resumiria a uma luta de ricos contra pobres, de norte contra Sul, do imperialismo contra a afirmação dos Estados nacionais — tolices regressivas, enfim, que fizeram com que este país andasse para trás nas relações internacionais e no comércio mundial.
O presidente, em suma, não resolveu acusar os suspeitos de sempre. Ao contrário: preferiu censurar aqueles que, de forma deliberada, sob o manto, muitas vezes, da falsa resistência, promovem a intolerância, a violência, o terror e a morte. Afirmou Temer:
“Os focos de tensão não dão sinais de dissipar-se. Uma quase paralisia política leva a guerras que se prolongam sem solução. A incapacidade do sistema de reagir aos conflitos agrava os ciclos de destruição. A vulnerabilidade social de muitos, em muitos países, é explorada pelo discurso do medo e do entrincheiramento. Há um retorno da xenofobia. Os nacionalismos exacerbados ganham espaço. Em todos os continentes, diferentes manifestações de demagogia trazem sérios riscos.”
Eis aí: seja esse um entendimento pessoal de Michel Temer — e creio que seja também —, seja essa a expressão da nova política externa brasileira, estamos, desta feita, com uma leitura mais complexa e matizada do mundo. O Brasil, por intermédio do seu presidente, reafirmou suas convicções pacifistas, especialmente quando se referiu à questão nuclear. E foi pertinente ao citar explicitamente a Coreia do Norte como uma ameaça nessa área, o que a diplomacia petista jamais faria, é certo!, porque iria considerar que aquele país só tem ogivas atômicas para se defender dos EUA.
Impeachment
O presidente tocou, sim, no impeachment. E agiu certo ao fazê-lo. Destacou:
“Trago às Nações Unidas, por fim, uma mensagem de compromisso inegociável com a democracia. O Brasil acaba de atravessar processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento. Tudo transcorreu, devo ressaltar, dentro do mais absoluto respeito constitucional.
O fato de termos dado esse exemplo ao mundo, verifica que não há democracia sem Estado de direito – sem que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos. É o que o Brasil mostra ao mundo. E o faz por meio a um processo de depuração de seu sistema político. Temos um Judiciário independente, um Ministério Público atuante, e órgãos do Executivo e do Legislativo que cumprem seu dever. Não prevalecem vontades e isoladas, mas a força das instituições sob o olhar atento de uma sociedade plural e de uma imprensa inteiramente livre.”
Bem, digam-me onde está o erro da observação acima.
Há muito não tínhamos na ONU o discurso de um presidente do Brasil. Quem lá falava, Lula ou Dilma, o fazia em nome de uma facção.
Agora não! É o primeiro discurso de um governante brasileiro em 14 anos.
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