Embora se fale em força-tarefa como uma unidade para designar delegados da PF, Ministério Público e agentes da Receita, sabe-se, desde sempre, que há uma espécie de disputa surda entre os procuradores e os policias federais pelo protagonismo. Insisto nisto faz tempo: o único risco que corre a Lava-Jato é o da guerra de vaidades. Para que pudesse ser ameaçada pelo governo, seria preciso que o Palácio do Planalto conseguisse manipular o MP, a PF e o juiz Sérgio Moro. Não parece que isso seja possível. O PT, diga-se, sempre lamentou não ter conseguido esse controle.
Executivos da Odebrecht negociam com o Ministério Público um acordo de delação premiada que, supõe-se, será de grandes proporções. A empresa também busca um acordo de leniência considerado vital para o seu futuro. Tudo indica que a operação de agora foi, vamos dizer, uma demanda que veio da Polícia Federal. No pedido de prisão de Antônio Palocci, escreveu o delegado Filipe Pace:
“É fato público e notório de que o grupo Odebrecht está em negociação para celebração de acordo de colaboração premiada com a PGR, circunstância que, por si só, deixa em estado de alerta todos os criminosos que se envolveram com o grupo empresarial e poderá ensejar prejuízo a futuras investigações e instruções”.
Ora, se a gente tomar o que aí vai escrito por aquilo que… aí vai escrito, sempre que algum investigado estiver prestes a celebrar um acordo, será preciso prender temporariamente todas as pessoas que com este futuro delator estejam implicadas. Queiram ou não, trata-se de um raciocínio estranho. Como observa corretamente a Folha, embora a Odebrecht seja, na versão apresentada, a parceira de lambança de Palocci, não houve mandado de busca e apreensão na empresa, o que é, vamos convir, um pouco estranho. Parece que é uma tentativa de manter as negociações para as delações.
A defesa de Palocci questiona a necessidade da prisão temporária, o que, levado na ponta do lápis o que diz a Lei 7.960, faz sentido. Afinal, se o recolhimento à prisão do ex-ministro se mostra fundamental para o inquérito agora, por que, então, não se fez isso antes? Desde quando Palocci está na mira, já haveria tempo mais do que suficiente para destruir provas. Não é crível que ele as estivesse guardando debaixo da cama. Vamos ver o que vem pela frente. Essa prisão pode ser renovada por mais cinco dias. No curso de sua validade, a preventiva pode ser requerida. Para tanto, será preciso demonstrar que Palocci é uma ameaça à ordem pública ou econômica — isto é, comete novos crimes; pode ameaçar a instrução criminal, com capacidade para influenciar testemunhas ou mexer em provas; ou representa uma ameaça à execução da Lei Penal — traduzindo: corre o risco de fugir.
O PT ficou em alerta máximo porque Palocci é um dos petistas mais próximos de Lula, à diferença, por exemplo, de José Dirceu, que o PT resolveu jogar às cobras. É bem verdade que a militância não se inflamou tanto com a prisão do ex-ministro — à diferença da reação à detenção de Guido Mantega. Há nisso um pouco de moralismo à moda petista: como Palocci se tornou, inequivocamente, um homem rico, acham que ele não atuou apenas em favor do partido. A moral degenerada de fundo é a seguinte: quem faz lambança em nome do PT é herói; se o sujeito aproveita para cuidar também de seu futuro, aí já se torna menos puro.
Vamos ver o que vem pela frente. O núcleo da Lava-Jato que detonou o caso Palocci não é exatamente o mesmo que negocia as delações da Odebrecht, das quais, diga-se, o ex-ministro já era personagem, segundo o que vazou para a imprensa. Junto com Guido Mantega.
Palocci é uma figura curiosa no PT. É razoável supor que o país não teria mergulhado no desastre econômico se ele tivesse conseguido se manter como o home forte do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Sem que o PT deixasse de lado nenhum de seus vícios morais — muito pelo contrário —, é provável que ele tivesse forçado a mão para impedir que Dilma impusesse o seu “modelo econômico”, de que Guido Mantega foi fiel servidor.
Isso teria sido bom ou mau? Depende, leitor, daquilo que você quer saber. Que o modelo autoritário petista não causava repúdio a Palocci, isso é evidente. Tanto que ele seguiu um fiel servidor do partido e de Lula mesmo fora do poder. Aí a gente pode se perguntar, já respondendo: é melhor um autoritário eficiente ou trapalhão? Eu tendo a preferir o trapalhão. Termina como Dilma e Mantega.
Palocci teria dado vida mais longa ao regime.
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