Vamos convir, leitor amigo, a coisa parece roteiro de novela. Ou, para adaptar a comparação às circunstâncias contemporâneas e aos novos hábitos, estamos assistindo a um desses seriados do Netflix. E prestes a ver o último capítulo da Primeira Fase de “Os Farsantes”.
Chegamos àquela situação em que três petistas podem decidir o futuro imediato de Eduardo Cunha no Conselho de Ética. Num cenário de virtual empate, com um colégio de 21 pessoas, três votos podem valer 6, não é?
Se os companheiros Valmir Prascidelli (PT-SP), Leo de Brito (PT-AC) e Zé Geraldo (PT-PA) se opuserem à continuidade do processo contra Cunha, é grande a chance de este mandar arquivar a denúncia que pode resultar no impeachment de Dilma. Se eles votarem a favor — e não importa se o presidente da Câmara terá ou não o placar que deseja —, o peemedebista admite a denúncia.
Há quem diga que a coisa é assim mesmo: 50% a 50%. O PT faz isso e recebe isso. Faz aquilo e recebe aquilo. Há quem sustente que a realidade é um pouco mais complexa.
A acusação de que o BTG Pactual pagou R$ 45 milhões a Cunha por uma emenda à MP 608 teria sido, para o presidente da Câmara, a gota d’água e lhe teria dado a certeza de que seu destino está sendo traçado em subterrâneos fora de qualquer intervenção. Tenha ele recebido ou não, eis um fato: quem conversa com o deputado diz que, desta feita, ele realmente perdeu a fleuma. Antes, o homem se dizia apenas indignado com as acusações contra ele — uma indignação de jogador. Agora, estaria furioso.
Quem é que sabe? A realidade, nesse caso, está indo muito além de qualquer ficção. Nesse último capítulo da primeira temporada, o Planalto cobra dos três petistas que pensem apenas na pátria, mas não aquela representada pelas cores verde e amarelo. É para pensar na pátria da bandeira vermelha: o PT.
Não é preciso ser muito sagaz para intuir que, caso Cunha aceite a denúncia contra Dilma, começará a contagem regressiva para ela deixar o cargo. O que já está desarranjado lá nas bandas do governo vai se desarranjar ainda mais.
A economia degringola, e a crise, que é política, que é, então, por óbvio, econômica, começa a exibir sinais de crise social também. Diz-se por aí que ninguém tem resposta para o atual quadro. Pode até ser verdade. Ocorre que cabe a Dilma responder à equação, e ela, é visível, também não tem o que dizer. Ademais, não se pode exigir que os que estão fora do comando atuem como se no comando estivessem.
Dilma sabe que faria um bem imenso ao país se, uma vez admitida a denúncia, fizesse o óbvio: renunciar ao mandato, antes que as coisas se esgarcem mais do que hoje.
Ainda que jamais o faça de público, a presidente certamente tem consciência de que a sua eleição — legal, sim —, a essa altura, foi deslegitimada por pensamentos, palavras e atos.
O pensamento deslegitimou sua eleição porque o PT jamais ignorou que entrava numa corrida munido da intenção de sempre: a conquista do poder a qualquer preço. As palavras a deslegitimaram porque Dilma empreendeu uma ordem de compromissos que não tinha como cumprir. E, finalmente, deslegitimaram-na os atos, uma vez que a presidente está sendo obrigada, pela matemática, a cumprir um roteiro rigorosamente oposto ao que foi pactuado com os que sufragaram o seu nome.
Em vez de novos e sorridentes amanhãs, Dilma oferece ao país o desastre. Deveria deixar o posto independentemente do que faça Cunha. Mas não terá como segurar o rojão se ele acatar a denúncia.
Agentes políticos, os mercados, os futurólogos, os analistas de todos os matizes… Ninguém aposta que Dilma sobreviva às águas de março.
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manha, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama.
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