Publiquei, às 16h33, um post intitulado “MENDES 1 – Ou: Da arte de irritar fascistas de direita e esquerda”. E ilustrei, como podem ver, com um sujeito de, literalmente, maus bofes vomitando sobre o teclado.
É o que se encontra hoje em dia em boa parte das redes sociais. Fascistas de esquerda e de direita tentam, a todo instante, tomar de assalto o ambiente com suas generalizações grosseiras, suas ignorâncias rutilantes, suas contraposições sem sentido.
É o conteúdo das vísceras. É vômito quando as ideias são precocemente expostas. É cocô quando saem depois de completado o ciclo do pensamento.
Mendes concedeu uma entrevista corajosa e elucidativa. E pôs os pingos nos is.
Não! Caixa dois não é sinônimo de corrupção, assim como caixa um não é sinônimo de lisura. As investigações demonstram que a doação oficial pode ser fruto da corrupção e caracterizar até mesmo lavagem de dinheiro.
E, no entanto, os vomitadores de ignorâncias expelem: “Olhem o ministro tentando justificar o caixa dois!!!” Justificar? Com quais meios?
Mendes lembrou, por exemplo, que empresas podiam doar pelo caixa dois, muito especialmente às oposições, porque não queria se alvos da pressão oficial, do governo de turno. Ou porque não querem passar por espécie de chantagem e extorsão: “Doou para o meu adversário! Se não doar para mim, sabe como é…”
Mas…
Mas a observação mais importante de Mendes nem é essa. Leiam o que segue:
“Eu acho que nem o mais cândido dos ingênuos acredita que o candidato da oposição tinha a força atrativa dos candidatos da situação. Basta ver os volumes de recursos na declaração do Marcelo Odebrecht. Diz que o PT tinha um fundo de R$ 50 milhões associado à aprovação de determinada MP [medida provisória que supostamente beneficiaria a empreiteira], é uma situação realmente muito peculiar. Se eu distribuo recursos para a oposição e a situação, eu não quero que a situação, à qual estou vinculado, me cobre por estar apoiando a oposição. Em suma, é muito complexo. Agora, o caixa 2 tem que ser desmistificado também. Necessariamente ele não significa um quadro de abuso de poder econômico. Por que se faz caixa 2? A princípio para o candidato seria indiferente, seria até melhor que ele recebesse pelo caixa 1. Por que um candidato de oposição vai pedir recurso no caixa 2? Isso talvez tenha mais lógica para a estratégia de quem doa. ‘Ah, eu quero doar no caixa 2 para não ser conhecido, para não ser pressionado1’. Se eu distribuo recursos para a oposição e a situação, eu não quero que a situação, à qual estou vinculado, me cobre por estar apoiando a oposição. Em suma, é muito complexo.”
Obviamente as pessoas têm de ser julgadas segundo os crimes que cometeram, não? E depois de apresentadas as devidas provas.
A conversa vira coisa de doidos, não é? O que o Supremo ou qualquer outro tribunal não podem fazer? Considerar que basta a existência de caixa dois para caracterizar, sei lá, corrupção passiva, peculato e lavagem. O Ministério Público Federal terá de produzir provas que demonstrem esses crimes.
Má-fé intelectual
Há um traço de má-fé intelectual nesse debate que boa parte da imprensa, refém dos vazamentos da Lava Jato, prefere ignorar.
A verdade é que o MPF gostaria de tomar “caixa dois” como sinônimo de “corrupção e lavagem”, sem precisar de provas nada; sem precisar evidenciar a origem criminosa do dinheiro e a responsabilidade subjetiva de quem recebeu.
Com a devida vênia, quem gostaria de ter uma lei de exceção ou de ver julgamentos feitos ao arrepio da ordem legal é o MPF, não o Congresso.
“Ah, que absurdo!”
É mesmo? Eu estou enganado ou o órgão celebrou com delatores da Odebrecht um acordo que prevê até penas extrajudiciais?
Fascistas de esquerda não gostam dessa conversa porque querem ver todos no mesmo barco. Apostam em que todos afundem e só Lula boie.
Fascistas de direita não gostam dessa conversa porque apostam na destruição da classe política para emplacar o seu demiurgo.
Mas Gilmar não tem medo de fascistas de esquerda e de direita.
Eu também não!
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