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quarta-feira, 8 de março de 2017

Era uma vez no Oeste do PT: Ladrões amadores e máfia organizada

Os dados que vazaram das delações de diretores da Odebrecht ao TSE são assombrosos. O ex-diretor Humberto Mascarenhas, que respondia pelo tal “Departamento de Operações Estruturadas”, que fazia os pagamentos ilícitos, afirmou que o grupo movimentou, entre 2006 e 2014, a estratosférica quantia de US$ 3,39 bilhões — mais ou menos R$ 10,5 bilhões, querido leitor. Desse total, de US$ 500 milhões (R$ 1,548 bilhão) a US$ 600 milhões (R$ 1,858 bilhão) eram caixa dois de campanha. O setor também pagava propinas e atendia a urgências de funcionários no exterior, submetidos, muitas vezes, a ameaças.

Por que o título deste post é “Era uma vez no Oeste do PT”? Faço uma alusão ao magnífico filme “Era Uma Vez do Oeste”, de Sérgio Leone, de 1968, que tem de ser visto por quem não conhece. Quatro medalhões do cinema contracenam com brilho invulgar: Jill McBain (Claudia Cardinale), o bandido Cheyenne (Jason Robards), o pistoleiro de aluguel Frank (Henry Fonda) e um homem apelidado apenas de “Harmônica” (Charles Bronson).

O filme trata da chegada da ferrovia ao Oeste dos Estados Unidos, a terra ocupada por aventureiros, pistoleiros e justiceiros. O empreendedor é um milionário sem escrúpulos chamado Morton (Gabrielle Ferzetti). Cheyenne é um bandido, um ladrão, um assassino. Mas faz o gênero bonachão e romântico. Seu antípoda, no mundo da pistolagem, é Frank — este, sim, despido de qualquer limite ou escrúpulo. Todos eles se cruzam naquelas vastas solidões de areia. O magnata dos trilhos decide, então, contratar Frank para forçar um homem a vender suas terras, que seriam brutalmente valorizadas pela chegada da estrada de ferro. Bem, meus caros, assistam ao filme. É uma dica cultural imperdível. Só a espetacular música de Ennio Morricone já vale o seu tempo.

O que há de essencial nesse filme? Assiste-se ali à passagem da bandidagem amadora, seja bonachona ou brutal, para o crime organizado, para a organização mafiosa. Eis Morton: ele é o pistoleiro que não anda armado. Ele é o pistoleiro profissionalizado. Onde antes havia improviso e até certa audácia criminosa individual, passa a haver um método.

E isso marca, sim, a diferença entre a corrupção havida no passado, desde tempos imemoriais, e aquela praticada pelos companheiros. Ora, qual é o erro que têm cometido esses que chamo “direita xucra”, sob os auspícios da Lava-Jato? Considerar que todos são igualmente criminosos; que todos têm a mesma culpa no cartório; que todos são bandidos da mesma cepa. Em um dos vazamentos, informou-se que Marcelo Odebrecht afirmou ter repassado, entre 2008 e 2014, nada menos de R$ 300 milhões ao PT. Segundo Hilberto, no ano de 2014, o da reeleição de Dilma, foram repassados US$ 14 milhões ao marqueteiro João Santana.

Sim, resta evidente, e já se sabe, em razão de múltiplos vazamentos, que o PT não foi o monopolista dos recursos ilícitos. É claro que não. Que se apure tudo, sem restrições. Mas comete um crime contra a história quem ignora a centralidade que teve o partido na profissionalização da corrupção. Os companheiros a transformaram num método de gestão. Mais um pouco, viraria uma categoria de pensamento. É mesmo uma pena que Marilena Chaui não tenha tido tempo de refletir sobre o tema à luz das nervuras do real de Espinosa.

Alexandrino Alencar, o ex-diretor do grupo mais próximo a Lula, afirmou, por sua vez, que Edinho Silva, hoje prefeito de Araraquara e tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, pediu R$ 30 milhões pelo caixa dois. O dinheiro teria sido empregado para pagar o apoio dos partidos da coligação “Com a Força do Povo”.

Infelizmente para a história e para a verdade, o país está perdendo de vista o que significou o petismo na centralização e na estruturação do assalto aos cofres. Não, senhores! Cheyenne, o bom bandido, era diferente de Frank, o bandido mau. E os dois eram obsolescências perto de Morton, o mafioso profissional.

No filme, quase tudo acaba bem, com uma perda ou outra. Nada indica, até agora, que será assim na vida real.

PS: Ah, sim. O título da obra em italiano é “C’era una volta il West”. Ou: “Era uma vez o Oeste”. Foi erroneamente traduzido para o inglês por “Once Upon a Time in the West”, e a tradução literal virou o título em português: “Era uma vez NO Oeste”.

O título em italiano retrata melhor a obra. O que o filme mostra é o fim do Oeste até então conhecido. O PT também mudou o Brasil, se é que me entendem. A depender do que venha pela frente, o nome do filme será “Era uma vez o Brasil”.


Arquivado em:Brasil, Política


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