De todos os defeitos de caráter, já escrevi aqui, a covardia é o pior. E a pior de todas as covardias, que também têm uma escala, é a intelectual. O covarde físico, vá lá, tem de enfrentar o ancestral medo de morrer, não é? Em certa medida, todos temos. De fato, formos programados para lutar pela sobrevivência.
Mas a covardia intelectual… Ah, essa é nada além do que a busca no conforto, ainda que a pessoa esteja protegida pela cálida esfera de mistificações e meias-verdades.
Todos temem o alarido.
Fiz considerações neste sábado a uma amiga jornalista sobre o que está em curso. É amiga mesmo, gente que gosta de mim, que se preocupa comigo, que tenta me proteger. Assim agem, afinal, os amigos, não? Ou se é o quê, além do cadáver adiado de um traidor?
E ela me mandou a seguinte mensagem por WhatsApp: “Rei, não escreva isso, não! Esses caras estão procurando qualquer coisa para encher o seu saco”. E eu respondi, e ela entendeu: “Eu não posso ficar refém da distorção industriada daquilo que penso e escrevo. Até porque o volume que que assume o linchamento na Internet nada tem a ver com a realidade. Os robôs dessa escumalha toda não podem me intimidar. Se eu atendesse ao alarido dos grupos mais agressivos das redes, teria de caminhar para a extrema-direita. E esta é tão adversária de um liberal como a esquerda. Aliás, tem-se revelado mais burra, mais grosseira, mais vigarista”.
Oh, não, não estou reivindicando heroísmo nenhum — nem agora nem antes, quando alguns que me atacam ciscavam no terreno do petismo triunfante e de seus interesses, inclusive junto a empreiteiros e afins. Ou quando certas vozes estridentes (antes de descobrirem o antipetismo como profissão, não como convicção) tentavam ganhar uma graninha oficial dos companheiros.
A coragem intelectual não é coisa nem de heróis nem de mártires — a não ser, claro, quando enfrenta regimes de força. É só um jeito decoroso de se pôr no mundo.
Eis aí. Acho que assim concluo bem este post: a coragem é uma imposição da elegância. E um gesto ou é elegante ou nunca será.
PS: Na ilustração, faltou uma vírgula entre as palavras “covardia” e “caráter”. É só uma questão gramatical. Mas, na vida, sempre haverá uma trave entre ambos.
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