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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Os inimigos de Temer são previsíveis; precisa é tomar cuidado com os amigos

Os inimigos de Michel Temer são mais ou menos previsíveis. Pelo jeito, ele precisa é tomar muito cuidado com os amigos. E o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vamos ser claros, meteu-se numa grande trapalhada. Por que afirmo isso? Vamos ver.

Nunca antes na história deste país se viu uma Câmara dos Deputados tão unida. Raramente houve tamanha convergência de partidos em favor de uma ideia. Refiro-me, claro!, à Operação Tabajara montada para anistiar os políticos flagrados em caixa dois. Como vocês já devem saber, a ideia de jerico tinha três passos:
– usar um projeto de 2007, pronto para votação como mero cavalo-de-troia;
– substituí-lo por uma das 10 medidas propostas pelo MPF contra a impunidade: a criminalização do caixa dois;
– emendar o substitutivo com a anistia para os acusados de cometer caixa dois até a vigência da nova lei.

Representantes de quase todos os partidos foram flagrados na lambança: PMDB, PSDB, PT, PP, PR… Também já surgiram no rolo as digitais de Renan Calheiros, presidente do Senado (PMDB-AL), e do líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE). Todos, obviamente, negam a intenção e a paternidade da manobra. Como observei nesta terça no programa “Os Pingos nos Is” e no “RedeTV! News”, ninguém quer ser o pai do Bebê de Rosemary.

Vamos ser claros? Uma matéria dessa importância não teria sido pautada sem a anuência de Rodrigo Maia, mesmo estando no exercício da Presidência. É a Mesa quem define que matéria vai ser votada. É claro que ele agiu muito mal, especialmente porque, ao permitir a manobra no breve tempo em que substituía Temer, é como se estivesse levando a manobra para dentro do Palácio do Planalto. Mais: sugere que a trapalhada pudesse contar com a anuência presidencial. Tanto pior quando se sabe que o tal Moura, líder do governo na Câmara, também participou da conspirata.

O mais estupefaciente é imaginar que uma manobra dessa grandeza vai se realizar sem que ninguém perceba. Pior: a maioria dos deputados também não estava sabendo de nada. Parece que tudo foi acertado entre os líderes e cardeais da Casa. Um que apareceu na linha de frente da proposta é o tucano Carlos Sampaio (SP). Indagado a respeito, ele diz ser preciso votar a lei que criminaliza o caixa dois, mas nega a intenção da anistia, apesar de todas as evidências.

Rodrigo Maia concede uma entrevista às Páginas Amarelas de VEJA desta semana. Desgostei de várias coisas, que direi a seu tempo. Uma das minhas reservas se refere a uma passagem em que ele se diz contrário a radicalismos, afirma ter buscado o voto das esquerdas e conta ter dado um telefonema de agradecimento a Lula por ter liberado os petistas para votar nele.

Não é que eu tenha algo contra o diálogo, mas essa disposição de abraçar todo mundo pode emprestar ao mandato um viés corporativo que tende a incluir todo mundo, menos a população.

É claro que Rodrigo Maia está moralmente obrigado a explicar como aquela estrovenga apareceu na pauta.

Não foi um fantasma que tomou a decisão, certo?



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