O governo reagiu como barata tonta ao vazamento do conteúdo da possível delação do senador Delcídio do Amaral (PT-SP). A reação inicial foi tentar negar a existência de qualquer acusação. Depois o tom mudou. O Planalto passou, então, a operar com um dado: a informação existe, o vazamento é criminoso, isso não é bom para a democracia e tal.
Leiam a nota divulgada pela presidente Dilma:
“Todas as ações de meu governo têm se pautado pelo compromisso com o fortalecimento das instituições de Estado, pelo respeito aos direitos individuais, o combate à corrupção e a defesa dos princípios que regem o Estado Democrático de Direito. Nós cumprimos rigorosamente o que estipula a nossa Constituição.
Em meu governo, a lei é o instrumento, o respeito ao cidadão é a norma e a Constituição é, pois, o guia fundamental de nossa atuação.
Por isso, à luz de nossa lei maior defendemos o cumprimento estrito do devido processo legal. Os vazamentos apócrifos, seletivos e ilegais devem ser repudiados e ter sua origem rigorosamente apurada, já que ferem a lei, a justiça e a verdade.
Se há delação premiada homologada e devidamente autorizada, é justo e legítimo que seu teor seja do conhecimento da sociedade. No entanto, repito, é necessária a autorização do Poder Judiciário.
Repudiamos, em nome do Estado Democrático de Direito, o uso abusivo de vazamentos como arma política. Esses expedientes não contribuem para a estabilidade do País.”
Observem que a nota se ocupa pouco, ou nada, de contestar o conteúdo ou de atacar Delcídio. O tom mudou em relação ao destempero de José Eduardo Cardozo, agora advogado geral da União. Ele partiu pra cima de Delcídio, desqualificando o senador em entrevista. Estava nervoso, apoplético, descompensado. Fofocas que circulavam na rede o colocavam na periferia involuntária do vazamento.
Como setores amplos do PT já não o têm em alta conta, parece que ele se viu obrigado a abusar da veemência para passar credibilidade. No fim das contas, conseguiu apenas ser um homem irritado.
Cardozo, afirmou que o senador petista “não tem credibilidade” e “não tem primado por dizer a verdade”. Classificou ainda as acusações como “retaliação” e “conjunto de mentiras”. Disse ele: “Há forte possibilidade de ser retaliação, até porque isso foi anunciado previamente. Se o governo não fizesse nada, ele retaliaria. Independente de tudo o que foi dito, o senador Delcídio lamentavelmente não tem credibilidade pra fazer nenhuma afirmação”.
Como se nota, enquanto alguns governistas dizem que a delação nem sequer existiu, Cardozo parte do pressuposto de que ela existe, sim, mas que seu conteúdo é falso. Pergunta-se mais: se Delcídio estava chantageando o governo, por que não se tornou, então, pública tal chantagem?
Quem também admitiu a existência da delação foi o ministro Jaques Wagner, da Casa Civil. Saiu em defesa de Dilma e afirmou que a delação do senador não tem muita consistência, havendo nela “muita poeira e pouca materialidade”. Segundo ele, a presidente ficou “preocupada” e “indignada”. Disse ser “intolerável” e um “crime gravíssimo” a divulgação de uma delação premiada antes dela ser homologada pela Justiça.
Como se nota, depois do primeiro impacto, o governo baixou a bola. Deixou de negar que o documento exista e preferiu criticar a suposta conspiração que resultou no seu vazamento.
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