Não há dúvida de que estamos na “Selva Escura”. E, desta feita, realmente não sei se haverá remissão possível. A frase tem sentido por si. Quem quiser mais tem de fazer uma pesquisa sobre “A Divina Comédia”, de Dante.
Tenho chamado a atenção neste blog há muito tempo — e, com ênfase, desde que a Lava Jato começou, em março de 2014 — para a necessidade de se preservarem instituições, leis, procedimentos. Nada disso concorre para a impunidade. Ao contrário.
Temia justamente o que vejo em todo canto. Há um clima de apreensão e desesperança, embora, tudo indica, o pior já tenha passado. Constato em certos segmentos a necessidade patológica, doentia, psicopata mesmo, de considerar que o país não passa de um amontoado de estúpidos e venais, sem futuro. Claro! Os arautos desse Vale de Caídos se consideram livres e acima do desastre.
Não deixa de ser assombroso.
Quando não temos os petistas e as esquerdas buscando desmoralizar qualquer fundamento que lembre ordem, matemática, conta, lei, lógica… Quando não é isso, lá vêm as Górgonas da extrema-direita com uma coleção de imbecilidades, falcatruas e baixarias que fazem o PSTU, o PSOL e o PCO se parecerem com a Academia de Platão.
Foi na extrema-direita que começou a circular, por exemplo, um texto apócrifo afirmando que o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, indicado por Michel Temer para o Supremo, conquistou essa deferência chantageando — isso mesmo! — o se chefe.
A tese é nada menos do que esta: um ministro da Justiça, sabidamente próximo de Temer há muitos anos, teria enfiado a faca no pescoço presidencial: “Ou me indica, ou conto tudo.” Mas “tudo” o quê? Ora, a farsa não precisa de tantos detalhes.
Qual é a aposta? Que as pessoas partirão para o clichê: “Onde há fumaça, há fogo”. E, bem, nem há fumaça nem há fogo. Só a marcha da estupidez.
O que impressiona é que a extrema direita e a extrema esquerda reproduziram essa baixaria, cada uma emprestando seus próprios acentos perversos à farsa, na certeza de que muita gente vai querer ler, ouvir, saber, passar adiante…
E isso aconteceu, não? A recente campanha eleitoral americana evidenciou a disposição — DE REPUBLICANOS E DEMOCRATAS — de trabalhar deliberadamente com a mentira. Sim, sabe-se que será evidenciada depois. Mas sempre sobra um resquício, alguma coisa, o fio da suspeita… “Essa pessoa não é aquela que…?” E, nesse quê, pode estar uma mentira grotesca.
Não! O jogo é mais pesado do que o da tal “pós-verdade”, que designa muito mais uma convicção genuína (afinal, o sujeito pode ser honesto na sua estupidez contra os fatos) do que uma farsa deliberada. Estamos falando de velhos conhecidos como calúnia, injúria e difamação, mas agora com o poder das redes.
Cliques
Como sabe a VEJA.com, não tenho motivos para reclamar os meus cliques. Jornal, rádio — programa de maior audiência do Brasil — TV… Só um dos jornalistas mais presentes no debate. E lastimo o horror de fazer qualquer coisa para ter visibilidade. E sempre com o intuito de destruir, agredir.
Lembrar que um país tem de se pautar por leis virou coisa de gente esquisita, conversa enviesada de quem quer defender a impunidade, mas busca subterfúgios. Vejo o caso da decisão do juiz (será outro comentário) que houve por bem dar uma liminar contra a nomeação de Moreira Franco para a Secretaria Geral da Presidência… A coisa é escancaradamente ilegal. E não é possível que ele não o saiba. Mas as Górgonas aplaudem a sua “coragem” porque aplaudem o mal.
“E você, não faz qualquer coisa por um clique?” Não! Eu os tenho aos milhões. Mas não escrevo com o propósito de despertar fúrias. O que é mais fácil? Defender que Eduardo Cunha permaneça indefinidamente preso ou defender a lei? E que lei? Não há razão para a preventiva (Artigo 312 do Código de Processo Penal), como sabe qualquer pessoa minimamente informada. Mas sobram elementos favoráveis a uma condenação — que resultará, dados os crimes, em prisão.
Mas quê… “Dane-se a lei! Queremos Cunha preso com ou sem base legal. E também Lula. E mais um monte de gente”.
Que seja! Mas isso pode ser feito respeitando a Constituição e as leis ou teremos de passar por um período de “ditadura virtuosa”? Pois é… Os fascistas de esquerda e de direita evidenciam, nesse aspecto mais do que em qualquer outro, a sua natureza comum. Eles só acreditam no voluntarismo dos mobilizados. A esquerda mobiliza seus coletivos em nome da justiça e da igualdade. E a extrema-direita açula suas falanges em nome da honra e contra a corrupção. O problema é que, hoje, não distinguem corrupção de garantias democráticas.
É claro que tudo pode dar errado — em parte, já está dando. Esse clima de terra-arrasada, ideal para os vigaristas, está chocando o ovo da serpente.
Vamos ver o que dirão as pesquisas eleitorais vindouras. Não creio que sejam animadoras para quem quer um país desenvolvido, pautado pela economia de mercado, com um Estado eficiente.
E não! Não culpem esta ou aquela ações objetivas do governo. Dado o descalabro herdado, Michel Temer se comportou muito bem até aqui e deu passos importante, á enumerados por mim em outros artigos
A irresponsabilidade de agora é essencialmente política. E o vale-tudo deriva do fato de que a Constituição, as leis, os códigos todos e a institucionalidade constituem empecilhos a ser vencidos.
A extrema esquerda acha isso.
A extrema direita acha isso.
Escolha o seu caminho. Escolhi o meu há muito tempo e, para ficar no caso, eu o tenho mantido nos 11 anos (em curso) deste blog.
Arquivado em:Blogs, Brasil, Política
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