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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Cunha e o aneurisma: afinal, ele pode ou não continuar na cadeia?

 

O aneurisma não existe para livrar ninguém de suas culpas, responsabilidades, tarefas. Aneurismas, mesmo quando no cérebro, como o que tive, com cirurgia feita no dia 28 de dezembro passado, não fazem escolhas morais, comportamentais, éticas, estéticas, nada… A gente faz essas coisas. Com outras partes do cérebro.

Por que isso? O ex-deputado Eduardo Cunha teve uma audiência neta terça com o juiz Sérgio Moro. Leu uma carta para o magistrado. No texto, diz ele sofrer “sofrer do mesmo mal que acometeu a ex-primeira-dama Marisa Letícia, um aneurisma cerebral”, e disse “prestar solidariedade à família pelo passamento”.

Quero me ater, por enquanto, a este aspecto: a formação aneurismal. O fato de um trem desse ter aparecido no meu cérebro não me faz um especialista. Mas eu andei lendo coisas a respeito. Vamos ver.

Aneurismas cerebrais são sempre graves. O risco evidente é o de rompimento. Maria Letícia sabia ser portadora de um. Por alguma razão, não se fez procedimento nenhum. Quando os exames me informaram do meu, os médicos disseram tudo com clareza: em caso de rompimento — possível porque eu havia tido três dores sentinelas (de advertência) —, a morte imediata atinge 40% das vítimas; outras tantas terão severíssimas e gravíssimas limitações físicas; o percentual restante fica reservado a vários tipos de sequela.

Dadas as modernas técnicas, a intervenção quase sempre é um procedimento recomendável: ou a clipagem, que se faz com uma fissura no crânio, ou a embolização, por cateter — como fiz. Tais procedimentos costumam ser bem-sucedidos, mas são de alto risco. Até onde acompanho, leigo como sou, o risco maior é ficar com o aneurisma — e, infelizmente, dona Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Lula, é um exemplo.

Só se constata o aneurisma com exames de imagem das artérias cerebrais. Não consta que Cunha tenha se submetido a um depois de preso. A ser verdadeira a sua informação, ele já tinha o mal antes de ir para a cadeia. Mas, se está lá e se ele se encontra sob a guarda do Estado, é preciso decidir o que fazer. E isso caberá aos médicos.

Eu vivo o período pós-cirúrgico (ou pós-embolização). Não é irrelevante. A cabeça dói. As tais “molas” de platina (minúsculas!!!) que ocupam o lugar do aneurisma são irritativas. Com o tempo, a dor se vai. Já posso levar uma vida normal. E, de preferência, abandonando alguns hábitos antigos. O mais difícil tem sido deixar o cigarro. Mas não vou desistir.

Cunha está no Complexo Médico de Pinhais. Reclamou das condições: “O presídio onde ficamos não tem a menor condição de atendimento se alguém passar mal. São várias as noites em que presos gritam, sem sucesso, por atendimento médico, e não são ouvidos pelos poucos agentes que lá ficam à noite”.

Bem, certamente inexiste, no Brasil e mesmo no mundo mais desenvolvido, um presídio que consiga atender às necessidades de alguém com aneurisma. Se Cunha não está sendo submetido a tratamento degradante — ainda que bom não seja —, não há razão para inferir que corra disco adicional.

O risco que há, e não sei o grau, está mesmo ligado à existência do aneurisma. Será preciso que médicos, com independência, façam uma avaliação técnica. Se for o caso de uma cirurgia, de crânio aberto ou fechado, que ela seja feita. E depois ele volta novo, ao menos em relação a esse mal, para a cadeia.

Em suma, havendo aneurisma, é preciso fazer a devida intervenção. Ele não existe nem para absolver nem para redimir ninguém. Ainda volto ao deputado em outro post.


Arquivado em:Blogs, Brasil, Política


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