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terça-feira, 1 de março de 2016

Lula, o mais honesto do mundo, deveria é erguer as mãos para o céu

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está por aí, a derrubar ministros, pintando e bordando, mas deveria, por enquanto ao menos, ser grato à Força Tarefa e a Rodrigo Janot em particular. No que lhe diz respeito, a coisa está saindo é muito barata, não é mesmo?

Lula é, por enquanto, um quase-investigado. E, para ficar nos termos de sua turma, há uma apuração, chamemos a coisa assim, envolvendo seu nome em razão de um apartamento “fubango” — que foi como Marco Aurélio Garcia classificou o tríplex — e um sítio até modesto, quando a gente leva em consideração o tamanho do gigante.

Em manifestação ao STF, afirmaram os procuradores da Lava Jato:
“No que tange ao PIC [Procedimento Investigatório Criminal] conduzido pelo MPF, as provas em cognição sumária são no sentido de que os fatos sob apuração, além de reproduzirem tipologia criminosa de lavagem de capitais já denunciada no âmbito da Operação Lava Jato, envolvem José Carlos Bumlai, executivos da construtora Odebrecht e executivos da construtora OAS, todos investigados e muitos dos quais já denunciados no esquema de corrupção que assolou a Petrobras”.

E se informa, então, que se apura se parte de vantagens indevidas foi recebida por Lula no exercício do mandato.

Lula nega que o apartamento seja seu. Para o sítio, ele arranjou a mais exótica de todas as justificativas: teria sido um “presente” de seu amigo e ex-sindicalista Jacó Bittar, embora a propriedade esteja no nome de Fernando Bittar (filho de Jacó) e Jonas Suassuna, ambos sócios de Fábio Luís da Silva, o Lulinha. Os demais presentes, das empreiteiras, vieram depois. Até uma antena 3G foi posta no local pela Oi. Presentes.

O ex-presidente deveria é dar graças a Deus. Eu até hoje não entendi por que não existe um inquérito para investigar a sua atuação no empréstimo de dinheiro que o grupo Schahin fez ao PT, que teve José Carlos Bumlai como laranja. Quando a dívida estava em R$ 60 milhões, o grupo assinou um contrato de US$ 1,6 bilhão para a operação do navio-sonda “Vitória 10.000”, da Petrobras. E o passivo com o partido foi perdoado. Duas delações premiadas — a de Nestor Cerveró e a de Fernando Baiano — asseguram que Lula sabia de tudo. Salim Shahin, um dos diretores do grupo, admite a relação de troca. Bumlai assume que foi laranja — o mesmo Bumlai que, segundo Lula, resolveu por conta própria reformar o tal sítio que pertenceria aos amigos de Lulinha… Tenham a santa paciência.

Lula sabe que a história não cola.  A pesquisa Datafolha deixou isso muito claro. Mas ele também não tem alternativa. Mais uma vez, ele já avisou que não vai depor ao Ministério Público Estadual. Quando se chegou a pensar que poderia haver condução coercitiva, seus advogados decidiram até entrar com pedido de habeas corpus preventivo.

Ora, ele tem consciência de que se negar a depor prejudica um pouco mais a sua reputação. Mas, nesse caso, meus caros, trata-se de escolher, do seu ponto de vista, o mal menor.

A cabeça de Lula deve estar presa a uma espécie de nó. Depois de tudo, como é que ele se tornou referem de um apartamento “fubango” e de um sítio que, se fosse seu também não papel, não geraria estranhamento nenhum — desde, é claro, que não houvesse os favores de duas empreiteiras e de uma empresa de telefonia?

Lula deve supor que o homem mais honesto do mundo, que é o que diz de si mesmo, não precisaria ter receio de falar aos promotores de São Paulo. E por que ele não fala, então?



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