Ai, ai…
Reportagem da Folha desta segunda informa que a presidente Dilma pensou em se licenciar no PT no fim do ano passado e propor a composição de um governo suprapartidário. Pois é… Já era tarde.
Eu tinha defendido esse ponto de vista aqui no blog num texto, atenção!, no dia 2 de março de 2015, muito antes. O link está aqui. O título era este: “Dilma tem de se livrar do PT, montar um gabinete de crise e impedir que o país mergulhe no caos. Não para preservar o seu mandato — isso se verá —, mas para impedir o pior”.
No texto, eu afirmava:
“O que proponho aqui não é um caminho para Dilma se livrar do impeachment — essa questão é, em primeiro lugar, jurídica e, em segundo, mas com igual peso, política —, mas para o país se livrar do caos. (…) Mas como é que se dá operacionalidade a um país que existe independentemente da cambada que o assalta? Uma recessão já estava contratada, pelas razões conhecidas, antes dessa desordem. O que estou dizendo é que é preciso achar um caminho, e ele existe, que leve a investigação às últimas consequências, que honre o devido processo legal, que meta na cadeia os culpados, mas que, de fato, não nos conduza ao abismo.
(…) a presidente tem de se dar conta do tamanho da crise, livrar-se da canga petista e evitar o pior. Não para preservar o seu mandato, mas para que os brasileiros sofram menos.”
Retomo
Apanhei de alguns bananas que não sabem fazer o “o” com o copo por ter feito essa proposta, que defendi também num vídeo gravado na Jovem Pan, no mesmo dia. Notem como as previsões dos economistas ainda eram otimistas, apesar de já trágicas. (veja vídeo aqui)
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E hoje?
E hoje? Será que essa saída é possível? Não mais! Agora é tarde. O destino infeliz de um país — e, portanto, de seu povo — pode, sim, ser função direta da hesitação ou da decisão errada de um governante.
Foi Dilma, e ninguém mais, que transformou o impeachment — ou, se quiserem ampliar as possibilidades: sua queda, sempre na forma da lei — na única saída razoável para o país. Não se trata de panaceia, e ninguém com um mínimo de responsabilidade e informação aposta que sobreviria o paraíso. Mas é certo que se romperia a paralisia.
Em março do ano passado, muito antes do agravamento da crise, Dilma poderia ter sacudido o statu quo, proposto um governo de coalizão, encaminhado uma emenda parlamentarista, o que serviria, adicionalmente, para deixar claro que o Executivo não se meteria nas investigações da Lava-Jato. Em vez disso, ela se vê agora na contingência de ter ministros obrigados a se comportar como esbirros de Lula.
Lá nas bandas do Planalto, os doidos dizem que a situação está um pouco melhor porque o impeachment teria esfriado… Então, segundo o raciocínio que se faz aqui, tanto pior, porque a saída de Dilma é o único caminho para que se forme uma nova maioria que possa começar a tirar o país do buraco. Enquanto ela permanecer, o que permanece é o impasse.
Eu até brinquei à época que Dilma deveria me ouvir, já que não gosto do seu partido, não gosto do seu governo e não gosto do seu temperamento. Mais: não tinha e não tenho interesse nenhuma a defender nem entre petistas nem entre seus adversários. Eu havia proposto que ela buscasse passar, para ser bíblico, pela porta estreita e, de quebra, encaminhasse uma proposta que ampliasse a democracia — como é o caso do parlamentarismo.
Agora a Inês já está enterrada. Se Dilma fica até o fim, como quer o olho gordo da magra Marina, o país vai indo espiral abaixo. O simples esfriamento circunstancial da tese do impeachment levou todos os agentes econômicos a rever para baixo suas expectativas.
Getúlio Vargas disse ter se matado por amor ao povo. Mentira, claro! Ele se matou porque era suicida. Ninguém cobraria essa enormidade de Dilma. Ainda há um caminho para ela minorar as agruras de milhões de brasileiros: a renúncia. Aliás, faço o pacote completo: ela encaminha uma emenda parlamentarista e promete renunciar tão logo seja aprovada. Só o PT e a extrema esquerda serão contrários.
E a gente se afasta do abismo.
Espero não estar certo de novo só daqui a… nove meses. Com o país no caos.
from Reinaldo Azevedo http://ift.tt/1Smkct7
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