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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O Aedes aegipti é o novo fator de unidade nacional. Ou: Dilma cai das asas do mosquito

Não vou aqui fazer a lista das cidades onde houve panelaço quando a presidente Dilma apareceu na TV para falar sobre o combate ao mosquito Aedes aegypti. Não faço porque isso sempre tem de ser ampliado, incluindo cidades e bairros que não são citados.

Parece-me que o prudente é considerar que houve protestos onde quer que as pessoas soubessem que ela iria se manifestar. Acho que se espalhou pelo Brasil inteiro.

Na região onde estou, na Paulista, do 24º andar de um edifício, ouvi o mais ruidoso de todos os protestos até agora. Como há muita gente voltando pra casa, as buzinas brigavam com as panelas para ver quem se manifestava com mais clareza.

Dilma está de parabéns! O ímpeto da presidente da República de transformar o mosquito num ativo político mereceu da população o devido repúdio e certamente vai contribuir para, como posso dizer?, elevar a temperatura em favor do impeachment.

O governo vende por aí, de maneira determinada, que houve um arrefecimento dessa possibilidade. Acho que está a confundir desejo com realidade. A reação de tentar voar nas asas do mosquito deixou isso claro.

Não tenho nada com isso
Como é praxe, a presidente buscou se eximir e a seus parceiros de petismo de qualquer responsabilidade. Afirmou: “O vírus zika, transmitido pelo mosquito, não tem nacionalidade. Começou na África, se espalhou pelo Sudeste da Ásia, pela Oceania e agora está na América Latina. E este foi um processo excepcionalmente rápido, a partir do ano passado.”

Ora, presidente Dilma!

Sei que é difícil, mas um governante deveria ser proibido de usar bens púbicos e privados — resumidos na Rede Nacional de Rádio e Televisão — para dizer imprecisões e inverdades.

Sim, essa é a geografia do vírus. Ela só se esqueceu de dizer que, ao chegar ao Brasil, o bichinho encontrou as circunstâncias ideais para se expandir. Afinal, o Aedes aegipti, seu hospedeiro, havia se transformado num verdadeiro fator de identidade e unidade nacionais.

Muito se fala nessa dita-cuja. As mais variadas correntes políticas, artísticas e ideológicas tentaram defini-las. A literatura indianista estava em busca do elemento que as plasmasse. Foi parcial. Os Modernistas de 22 também se dedicaram a esse esforço — tanto que uma corrente até chegou a ter simpatias pelo fascismo em razão de seu nacionalismo exagerado. Mais recentemente, o Tropicalismo, um movimento musical, mas com imbricações em outras artes, também escarafunchou o solo em busca dessa identidade, da unidade. E nada!

A verdade é que há tantos Brasis dentro do Brasil que todas essas tentativas falharam. Querem ver? O “samba” é coisa nossa? Não diz nada para o interior de São Paulo, Minas e Região Centro-Oeste, onde a identidade está na música sertaneja e variantes, ainda que modernizadas. Há o forró e assemelhados nordestinos. Nem uma coisa nem outra falam à memória cultural e afetiva do Sul e do Norte do país. E vai por aí.

A ditadura militar tentou unir o país com estradas, ferrovias, aulas de Educação Moral e Cívica… Tudo inútil.

Temos, finalmente, o mosquito.

Só ele agora nos define e nos unifica moral, intelectual e existencialmente.

Devemos isso ao PT de Dilma.



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