O PT decidiu recorrer à Justiça Eleitoral para reivindicar o mandato da senadora Marta Suplicy, que encaminhou nesta terça ao partido um pedido de desfiliação. A decisão inicial da cúpula da legenda era não se meter nessa seara. Mudou de ideia, no entanto, depois de ler a tal carta.
Marta abre o documento com uma pancada forte. Diz ela: “É de conhecimento público que o Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou, sendo certo que, mesmo após a condenação de altos dirigentes, sobrevieram novos episódios a envolver sua direção nacional.”
Em seguida, Marta alega que o partido abandonou seus princípios e seu programa, razão abrigada pela lei para que um político eleito peça a sua desfiliação. Rui Falcão, presidente da legenda — um ex-martista, secretário de administração quando ela foi prefeita —, reagiu com dureza. Disse que a desfiliação de sua ex-chefe se deve a “ambição eleitoral” e “personalismo desmedido”.
Mas será que o PT obterá sucesso na empreitada? Bem, duvido! Não será difícil provar que o partido se distanciou dos princípios que estão em seus estatutos, não é mesmo? De resto, não creio que o tribunal casse o mandato de alguém eleito pelo voto majoritário. O primeiro suplente de Marta é Antônio Carlos Rodrigues, que nem petista é. É do PR. Assim, o partido nem mesmo poderia afirmar que está reivindicando votos que são seus. Rodrigues teria de abrir mão do mandato para, então, dar posse a Paulo Frateschi, o segundo suplente — este, sim, um companheiro.
Acho que não vai acontecer. Leiam a íntegra da carta de Marta ao PT
“É de conhecimento público que o Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou, sendo certo que mesmo após a condenação de altos dirigentes, sobrevieram novos episódios a envolver sua direção nacional.
No meu sentir e na percepção de toda a nação, os princípios e o programa partidário do PT nunca foram tão renegados pela própria agremiação, de forma reiterada e persistente.
Para mim, como filiada e mandatária popular, os crimes que estão sendo investigados e que são diária e fartamente denunciados pela imprensa constituem não apenas motivo de indignação, mas consubstanciam um grande constrangimento.
Aqueles que, como eu, acreditaram nos propósitos éticos de sua carta de princípios, consolidados em seu programa e em suas resoluções partidárias, não têm como conviver com esta situação sem que esta atitude implique uma inaceitável conivência.
Ao tentar empenhar-me numa linha de providências, fui isolada e estigmatizada pela direção do partido. Percebi que o Partido dos Trabalhadores não possui mais abertura nem espaço para diálogo com suas bases e seus filiados dando mostras reiteradas de que não está interessado, ou não tem condições, de resgatar o programa para o qual foi criado, nem tampouco recompor os princípios perdidos.
Hoje o PT se distanciou completamente dos fundamentos que há 35 anos nos levaram a construí-lo com entusiasmo e envolvimento.”
Por décadas, acreditei e dei o melhor de mim na perseguição de ideais que, com seus acertos e erros, não se distanciavam de um norte ético indiscutível e intransigente.
Hoje, entretanto, não me sinto mais em condições de cooperar com o que não faz mais sentido a mim e a milhões de brasileiros.
A direção do Partido dos Trabalhadores vem restringindo, cerceando e limitando a atuação e desempenho de minhas atividades partidárias e, o que é mais grave, da minha atividade parlamentar oriunda da representação política de meu mandato.
Os fechamentos de espaços são muitos, com acontecimentos e constrangimentos públicos que envolvem situações e ações que, no passado recente, chegaram ao limite de colocar em risco minha eleição como Senadora pelo Estado de São Paulo nas eleições de 2010.
Vivencio o mais difícil e o pior momento de minha vida política. Como membro do PT, encontro-me em situação completamente constrangedora na bancada e no Plenário do Senado. Tenho me furtado a discursar e emitir minhas opiniões por me negar a defender um partido que não mais me representa, assim como a milhões de brasileiros que nele um dia acreditaram. Situação sem sentido que não tenho mais condições de deixar perdurar.
Serei fiel ao meu mandato e permanecerei depositária dos valores defendidos por aqueles que votaram em mim, hipotecaram sua confiança pessoal, e abraçaram as ideias que defendo desde a época em que me tornei pessoa pública em programa diário de TV onde sempre me pautei por princípios éticos inegociáveis.
Até onde pude, tentei reverter esta situação. Não fui ouvida. Não tenho compromisso com os reiterados desvios programáticos e toda sorte de erros cometidos.
Minha atuação como Senadora não pode ser isolada. Todo parlamentar precisa de um partido e o partido se expressa por meio de seus representantes eleitos.
Para quem é mandatária, como sou, eleita legitimamente com mais de 8 milhões de votos, resta-me a certeza de que minha prioridade é a fidelidade ao mandato que me foi outorgado pelo povo do Estado de São Paulo.
Como o exercício do meu mandato vem sendo claramente cerceado, em seu nome e em sua defesa, como representante popular sinto-me na responsabilidade e no dever de agir neste sentido.”
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