O diplomata Marcos Troyjo faz uma comparação interessante em sua coluna de hoje na Folha entre Petrobras e Apple. Ambas são as maiores empresas em seus respectivos países, mas as semelhanças acabam por aí. Especular como seria a Apple se ela fosse uma empresa controlada pelo estado é compreender como a privatização é a única saída verdadeira para a Petrobras.
A primeira grande diferença mostra algo relevante: enquanto o Brasil ainda possui uma empresa de petróleo, portanto de commodity, como a maior do país, os Estados Unidos têm no setor de tecnologia sua liderança. Claro que as gigantes americanas de petróleo ainda são representativas na economia, mas o fato de uma empresa como a Apple liderar, com folga, demonstra como o país está bem mais inserido na economia da informação, onde o que realmente vale é o capital humano, não os recursos naturais.
Mas o mais importante mesmo é entender o que está por trás disso. E a resposta mais sucinta que pode ser dada é: capitalismo liberal. Nos Estados Unidos, o ambiente de negócios é bem mais amigável, há ampla liberdade econômica (em termos relativos ao Brasil), o mercado de capitais é bastante desenvolvido, a mão de obra é mais qualificada (e não é mérito do ensino publico voltado para as áreas de Humanas, tampouco do Paulo Freire), etc.
A grande quantidade de empresas de tecnologia que nascem em garagens com pouco capital inicial e deslancham é prova desse mecanismo dinâmico intrínseco ao capitalismo liberal. Compare-se isso à realidade brasileira, onde as empresas “investem” em lobby em Brasília para obter financiamentos subsidiados do BNDES ou alguma barreira protecionista qualquer para impedir a livre concorrência. Não pode dar certo.
O mecanismo de incentivos é muito diferente numa empresa privada e numa estatal. A insistência de que cabe ao estado administrar as empresas nos setores “estratégicos” é um dos erros mais lamentáveis dos brasileiros, sustentado apenas pelo preconceito ideológico. Troyjo imagina uma gestão estatal na Apple, e sem dúvida o resultado seria mais ou menos assim:
Já imaginaram se o planejamento da Apple Store fosse entregue a apadrinhado de coalizão política que sustenta o titular da Casa Branca? E se a divisão de computação em nuvem coubesse à “reserva pessoal” de outro cacique de Washington?
Ou se contratos com fornecedores independentes dos 300 mil novos aplicativos desenvolvidos para o Apple Watch fossem inflados de modo a fazer caixa para políticos?
A Petrobras é a maior empresa brasileira. A Apple, a maior dos EUA -e do mundo. Tentador projetar como seria uma Petrobras libertada de ingerências políticas. Mais divertido ainda pensar no que aconteceria com a Apple se, dado o caráter “estratégico”, fosse uma estatal.
Governo algum deve ser gestor de empresas. Não faz sentido, não é sua função básica, e o mecanismo de incentivos é perverso, levando invariavelmente ao desperdício e à incompetência, sem falar da corrupção. Por que manter a Petrobras uma empresa estatal? Quem realmente ganha com isso?
Rodrigo Constantino
from Rodrigo Constantino - VEJA.com http://ift.tt/1zUstHi
via IFTTT
Nenhum comentário:
Postar um comentário