As manifestações de apoio à Lava-jato, convocadas pelo Ministério Público Federal e por setores do Poder Judiciário, juntaram, Brasil afora, segundo levantamento das Polícias Militares, 75 mil pessoas. Alguns organizadores do evento falam em 475 mil… A maior discrepância está em São Paulo. Manifestantes apontam 200 mil na Avenida Paulista, e a PM, 15 mil. A Polícia deve estar certa. Só para lembrar: nos atos contra o impeachment, os movimentos costumavam adotar os números da Polícia, não os da Datafolha, sempre menores. Foi usado desta vez o mesmo critério das outras. A menos que alguém tenha uma boa hipótese para a PM querer subestimar o público, podem apostar em 15 mil.
Não é um sucesso estrondoso, mas também não seria um mico não fosse um fato: considerados o apoio unânime da imprensa ao evento e a demonização a que está submetido o Congresso em todas as frentes, aí, sim, pode-se falar num relativo insucesso. Quando se compara o ato de agora com as jornadas em favor do impeachment, tem-se uma noção da diferença. Aquela jornada conseguiu furar a bolha da classe média radicalizada e furiosa com os políticos, com todos eles. Esta não.
Fiquem certos: serei a última pessoa a combater a disposição de as pessoas protestarem, especialmente quando essa manifestação se dá, como foi a deste domingo, segundo os ditames da lei e da ordem. Não se viu, mais uma vez, violência de qualquer natureza. O que não quer dizer que todos os discursos tenham sido pacíficos. Lá estava a turma, por exemplo, da intervenção militar… Mas eles sempre são minoria até dentro da minoria.
Amigos que foram à manifestação me mandaram filmetes. Li também o que a imprensa publicou — e com razoável confiabilidade porque, reitero, o jornalismo aderiu à onda. Fico satisfeito de ter sido crítico da manifestação porque, com efeito, não gostei do que li e ouvi.
Com variantes de discurso aqui e ali, com acentos distintos, há um erro de origem nos protestos: a suposição de que a Lava-Jato está correndo algum risco e de que existe uma grande conspiração para destruí-la. E, felizmente, isso é uma fantasia política. Não há conspiração nenhuma. Também acho lamentável que juízes e membros do Ministério Público participem de atos dessa natureza, como aconteceu, porque, ao fazê-lo, aderem a uma pauta política.
O Brasil dispõe de leis para combater a corrupção, como evidenciam os resultados da Lava-Jato. Ou serão fracos os instrumentos de investigação e punição que conseguem meter na cadeia pesos-pesados do empresariado, um senador, um ex-presidente da Câmara, três tesoureiros do maior partido do país, ex-ministros de Estado, dois ex-governadores? Ou falta aparelho repressivo a um Estado que, de cambulhada, pode dar início à investigação de duas centenas de políticos de uma vez?
Assim, é evidente que eu não poderia concordar com um ato que, na prática, estava pedindo ainda mais poder ao Ministério Público e, com clareza solar, hostilizando o Congresso, que é por onde terão de passar as reformas que podem nos dar algum futuro.
Os atos deste domingo evidenciaram que essa exacerbação em favor da hipertrofia do Ministério Público Federal não furou o bolsão da classe média radicalizada, para a qual a política é só o meio a que recorrem alguns espertalhões para enganar o povo.
Ah, sim: Renan Calheiros se transformou no alvo principal dos protestos. E isso merece ser visto no detalhe. Aconteceu por bons motivos, mas também por maus.
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