O Instituto Ipsos fez uma pesquisa para saber a opinião dos brasileiros sobre a Lava-Jato e chegou à conclusão de que 96% acham que a operação tem de continuar “custe o que custar”?
Hein?
Então há 4% de malandros no Brasil. Indagada a coisa desse modo, o único resultado aceitável é 100%.
Para começo de conversa, é o tipo de pergunta que não se faz. Ou, então, tem de ser feita direito.
Quero ver o Ipsos fazendo a seguinte pergunta:
“Você é a favor da Lava-Jato mesmo que venha a perder o emprego, e seus filhos tenham de sair da escola privada e ir para a pública?” — ou “perder o emprego” não se inclui no “custe o que custar”?
Ou ainda:
“Você é a favor da Lava-Jato mesmo que haja uma guerra civil?” — ou uma guerra civil está fora do “custe o que custar”?
Ou mais:
“Você é a favor da Lava-Jato mesmo que seja necessário dar um golpe militar?” — ou golpe militar se exclui do “custe o que custar?”
Sugiro ao Ipsos que faça uma pesquisa ainda mais instigante: “Você é a favor das pessoas boas e contra os ladrões?” É capaz de dar um pouco menos de 96%…
Mas dá para melhorar a pergunta rumo à unanimidade: “Você é a favor de Sérgio Moro e contra os canalhas?” Dá 100%.
Uma outra, puramente especulativa, tenderia a dividir a população, mas não em duas metades: “Cristo ou Moro”. Daria 60% a 40%. Para Moro.
Não se faz
Não é a primeira vez que a pesquisa é feita, mas, com todas as vênias e com todo o respeito, isso se confunde com cretinismo e militância. Não se trata de ciência.
Imaginem se alguém vai dizer que é contra a Lava-Jato… Só se for bandido. Quando se fala em “custe o que custar”, é claro que as pessoas não preenchem a possibilidade com situações concretas. Pensam sempre em questões maiores, abstratas, que não dizem respeito à sua vida privada.
Não se deve, entendo, fazer uma pesquisa que implique escolhas entre coisas que não são excludentes. “Você prefere transar ou tomar Chicabon?” Até porque é possível propor uma associação de ideias.
E sobretudo não se deve chegar a um resultado que sugira que 96% dos brasileiros estariam dispostos até a se martirizar pela Lava-Jato. Afinal, “custe o que custar” pode ser, deixem-me ver, a eleição de um governo de corte fascista.
Ah, sim: eu sou favorável à Lava-Jato? Claro que sou! “Custe o que custar?” Claro que não!
Se me custar uma perna, um braço, um golpe militar, a guerra civil, ter de ouvir o Bolero de Ravel ao Acordar, comer frango ensopado ou aguentar chatos que têm ideias para salvar o Brasil em meia-hora, aí eu vou dizer “não”…
Ocorre que a expressão “custe o que custar” é só um truque que falseia o resultado porque tem importância meramente retórica, hiperbólica, despida de qualquer substância.
Viva a Lava-Jato!
Mas sem frango ensopado, em companhia de um chato, ouvindo o Bolero de Ravel!
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