Temos um povo muito melhor do que a nossa elite. Sei que a frase pode simular um tom meio populista, mas populista não é por uma razão simples e objetiva: não falo sobre um palanque; não escrevo para conduzir as massas; quem consome imprensa no Brasil é justamente a elite, que está sendo criticada aqui — elite à qual pertence a imprensa, que raramente foi tão irresponsável, com as exceções costumeiras.
Tentaram, por alguma razão — e isto é espantoso! —, jogar no colo do presidente da República a tragédia que colheu o Chapecoense. Das causas do acidente às suas consequências, fez-se um esforço danado para associar o nome “Temer” ao desastre.
ESTAMOS VIVENDO O TEMPO DO JORNALISMO DE TESES — GERALMENTE MIXURUCAS. DANEM-SE OS FATOS! EXPERIMENTAMOS A ERA DA IMPRENSA E DOS MOVIMENTOS DE RUA COMPENSATÓRIOS. O QUE ISSO QUER DIZER? EXPLICO.
“Já que ajudamos a derrubar o PT, vamos mostrar para o tribunal das consciências que somos isentos e que não temos receio de tentar derrubar Temer também”. Entendi. E se ele cair? Bem, se ele cair, declaramos a nossa isenção! Mas e os brasileiros?
Quem?
Temer compareceu ao velório coletivo. Desde o começo, ordenou que sua presença fosse a mais discreta possível. Existem protocolos que antecedem a ida de um presidente a eventos públicos. E eles preveem uma ação da segurança que é bastante ostensiva — alguns podem considerá-la até hostil.
E não há espaço para o “querer”. O servidor público Michel Temer não pode impedir a Polícia Federal de fazer o seu trabalho na segurança não do homem Temer, mas do titular da Presidência da República. Com o anúncio da súcia de vagabundos de que haveria protesto, os cuidados são redobrados.
Chegou-se a anunciar que o presidente não compareceria, embora a equipe de segurança tenha se preparado para o contrário, com o mapeamento prévio do local, como pedem os… protocolos. Mas Temer foi. Os exploradores do sofrimento alheio não estavam presentes. Tinham se desmobilizado. E o que se viu?
O povo de verdade, que estava no estádio, não vaiou o presidente. Pelo contrário! Logo à chegada, cercado por centenas de familiares das vítimas, Temer foi aplaudido. Não era uma manifestação festiva, entusiasmada, própria das ocasiões de celebração. Tratava-se de um aplauso surdo, triste, pesado, decoroso, como pedia a situação.
Mandam-me nesta manhã um texto em que o presidente é criticado por sua, ora vejam, “hesitação”… Agora já se atrevem também a ser juízes das disposições subjetivas do chefe do Executivo — desde que seja, é claro, para atacá-lo. Afinal, por que o presidente teria um dúvida movido por algum bom sentimento?
Os nossos pensadores gastam toda a sua cota de tolerância com figuras decorosas e honradas como Fidel Castro, por exemplo. Se o sujeito não tem milhares de cadáveres nas costas, não por que abusar da dialética com ele…
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