As coisas estão começando a ficar como o diabo gosta. Já ficaram. Para onde caminhamos? Bem, perguntem aos incendiários.
Nesta quinta, enquanto o Supremo decidia se recebia ou não a denúncia contra Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, membros do Ministério Público e juízes promoviam um ato em uma das entradas do tribunal. Vamos ver: MP investiga e denuncia; juiz recebe ou não a denúncia e julga. Esse tipo de militância, entendo, fere o fundamento das duas funções. E daí? Juiz que prejulga à porta de tribunal pode envergar a toga?
Estavam lá, disseram, para protestar contra o que chamam criminalização do seu trabalho. Em Curitiba, também houve protesto. Então ficamos assim: promotores e juízes reivindicam o direito de se comportar como qualquer outra categoria profissional, inclusive na militância sindical, mas exigem uma intocabilidade única, a ninguém garantida, nem ao presidente da República.
No domingo, estão marcados alguns protestos. A Força-Tarefa, que é a verdadeira organizadora da manifestação, já deu a pauta. De forma deliberada, confunde-se o destrambelhado crime de responsabilidade de juízes e promotores, aquela estrovenga aprovada na Câmara, com o bom e sensato projeto que pune abuso de autoridade. No paralelo, é bom lembrar, o que deixa a turma inflamada é a comissão que apura os supersalários. O Poder que paga os vencimentos nababescos, como se sabe, é mesmo o Judiciário.
Promotores e juízes satanizam o Poder Legislativo e tratam todos os políticos como bandidos. Alguns movimentos de rua caem na conversa e aceitam, ora por cálculo, ora por ignorância, ser laranjas de incendiários e porras-loucas. Não fosse a coragem se uns poucos críticos, o país corria o risco de ter um pacote de medidas anticorrupção de fazer inveja à Coreia do Norte.
Vejam o número de políticos e empresários que a Lava-Jato já mandou para a cadeia ou está investigando. Em breve, vem a penca da delação da Odebrecht. Será mesmo que o Ministério Público precisa de leis de exceção? Segundo alguns de seus integrantes, sim! Querem ainda mais poder. Mas que ninguém ouse sugerir que eles podem cometer um erro.
O Brasil está afundando. Não conseguimos sair da delegacia de polícia para fazer políticas públicas. Não! Ninguém quer impedir a Lava-Jato. Esse é o mito mais cretino que os aspirantes a ditadores do bem conseguiram espalhar. A economia dava tênues sinais de recuperação, mas, na margem, a coisa já começa a engripar de novo. O Estado não tem dinheiro para investir, e os recursos privados não chegam num cenário de incerteza.
As razões da crise econômica são conhecidas. A crise política está sendo inflada artificialmente pelo destrambelhamento institucional. Os entes da República já não respeitam nem o espaço legal dos seus pares. Procuradores acham normal legislar e conseguem convencer alguns incautos de que, bem…, se o Congresso não o faz, que o façam, então, os de boa-vontade. No STF, até para conceder um habeas corpus, um ministro decide afrontar o Parlamento, atuando como legislador.
O país caminha para 13 milhões de desempregados. A PEC que estabelece o teto de gastos é apenas um esbirro, bem fraquinho, que pode sustentar por mais algum tempo um edifício que está prestes a desmoronar. É preciso cuidar de outros pilares. A reforma da Previdência é essencial. Encontrará um Parlamento conflagrado, achincalhado nas ruas — por bons, mas também por maus motivos —, talvez pouco disposto a aceitar a patrulha, aí das esquerdas.
Os brasileiros deram aos homens da Lava-Jato a tarefa de fazer valer a lei, de optar pelo caminho seguro e sereno das reformas. Mas seus extremistas querem brincar de revolução. A Câmara passou um mês debaixo de vara em razão de uma fantasia: a tal anistia, que todos sabiam ser impossível. Agora que está claro que aquilo nunca existiu nem poderia existir, então o foco é a tal “criminalização de juízes e promotores”, outra fantasia.
No PT, os de mais aguda vista voltaram a sorrir. A direita burra está conseguindo fazer o que nem a esquerda inteligente conseguiu: tornar o PT, de novo, um partido viável.
Um velho professor me ensinou quando eu tinha 14 anos: nada é mais reacionário do que a burrice.
Adiante, incendiários do nada e radicais do pouco.
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