Pesquisa Datafolha publicada no domingo mostra que disparou o descontentamento da população com o governo Temer. Em julho, 31% o consideravam ruim ou péssimo; agora, 51%. A causa principal, não duvidem, é política. Ainda voltarei a esse assunto. Mas é claro que as dificuldades da economia alimentam a insatisfação.
Muito se especulou nas duas semanas passadas sobre a fritura de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda. Nos bastidores, falava-se e fala-se ainda que a pressão maior partiria do tucanato, que estaria disposto, vamos dizer, a dividir com Meirelles o comando da economia.
Não tenho muita paciência para esse diz-que-diz-que brasiliano, sempre movido pelo lobby desse ou daquele. Prefiro ficar com o inequívoco.
E, a esta altura, é inequívoco que há uma paralisia da área econômica. Com uma retração de 0,8% do PIB no terceiro trimestre, com a perspectiva de crescimento do ano que vem abaixo de 1%, com a inflação em declínio, não faz sentido tanta cautela na administração da taxa de juros.
Não se trata aqui de advogar feitiçarias: “Ah, já que está instaurada a barafunda política, que, ao menos, se dê algum incentivo na área econômica, com uma queda artificial na taxa de juros…” Ao contrário: parece-me que artificial é a taxa hoje, em 13,75%, com uma inflação que deve fechar o ano abaixo de 7% e que, tudo indica, converge para o centro da meta no ano que vem.
Parece, aliás, que, na economia, não será essa a preocupação principal em 2017. O que assusta, aí sim, é o baixo crescimento.
Notem: dava-se já como certa uma expansão abaixo de 1% antes de a política começar a soar as trombetas do apocalipse. O vazamento do conteúdo de duas delações de diretores da Odebrecht ameaça o país com o fim dos tempos. É bem provável que as expectativas se deteriorem um pouco.
No longo prazo, tem-se um aceno positivo com a aprovação da PEC do Teto. Mas é claro que é insuficiente para estimular os agentes econômicos.
É certo que o novo ciclo de restrição monetária a que o país teve de recorrer para compensar as irresponsabilidades do governo Dilma surtiu efeito. A inflação cedeu. Era um pressuposto. O outro era botar freio na gastança. A moldura para isso está dada, com a aprovação da PEC.
Agora é preciso tomar providências para estimular a economia de forma responsável. Já não se justificam juros reais na estratosfera, de 6,75 pontos.
Acho, sim, bom que a Fazenda e o Banco Central estejam empenhados em manter a disciplina monetária, um dos fundamentos corroídos pelo desastre dilmista. Mas convém que o Ministério do Planejamento, sem heterodoxias, cuide de estimular a economia.
Não se enganem: não há reforma da Previdência possível num cenário de depressão econômica, com quase 13 milhões de desempregados. Um crescimento inferior a 1% — previsão anterior ao tsunami das delações da Odebrecht —, depois de dois anos seguidos de recessão de quase 4%, não muda em nada o quadro de pessimismo dos brasileiros.
Não! Não vou dizer que é chegada a hora de ter a ousadia de baixar os juros. Minha frase é outra: chegou a hora de ter a prudência de baixar os juros. Ou, se quiserem, a ousadia da prudência.
Arquivado em:Blogs, Brasil, Política
from Blog Reinaldo Azevedo – VEJA.com http://ift.tt/2gQiPCS
via IFTTT
Nenhum comentário:
Postar um comentário