A direita burra está dando a sua enorme contribuição — e por que não o faria? — para devolver a iniciativa política à esquerda. Há quanto tempo tenho chamado a atenção neste blog e em toda parte para o fato de que a substituição da política pela delegacia de polícia teria efeitos muito negativos, inclusive eleitorais?
O primeiro atingido, como indica pesquisa Datafolha, é o governo Temer. Só não digam que não alertei aqui, certo? Segundo pesquisa divulgada no domingo, a gestão é ruim ou péssima para 51% dos entrevistados; em julho, apenas 31% faziam essa avaliação. No período, caiu de 42% para 34% os que acham o governo regular, e de 14% para 10% os que o veem como ótimo ou bom. Na última avaliação da gestão Dilma, o ruim/péssimo alcançou 63%, o regular, 24%, e o ótimo/bom, 13%.
Há dados ainda mais preocupantes: só 21% dizem que o governo Temer é melhor do que o de Dilma. Para 34%, é igual, e nada menos de 40% dizem ser pior. Acham que a situação do país vai piorar 41% — já foram apenas 30%; dizem que vai melhorar só 28% — já chegaram a 38%. Ou por outra: as pessoas se tornaram mais pessimistas.
Esse levantamento é dos dias 7 e 8 de dezembro, antes, portanto, de o país ser sacudido pelo vazamento de delações de diretores da Odebrecht, com um deles acusando o presidente de ter pedido uma doação irregular de R$ 10 milhões à Odebrecht, o que o Planalto nega.
A maioria dos entrevistados, mostra o Datafolha, quer eleições diretas para presidente. E não depois: agora. 63% se dizem favoráveis à renúncia de Michel Temer para esse fim, e 27% se dizem contrários. O resultado é praticamente igual ao da pesquisa de 14 e 15 de julho, quando 62% diziam querer a renúncia de Dilma e Temer em favor do pleito direto; 30% se opunham.
Não custa lembrar: para que se realizassem eleições diretas, seria necessário que o presidente renunciasse até 31 de dezembro. Assumiria interinamente o presidente da Câmara, e se marcaria o pleito num prazo de 90 dias. Se a renúncia acontecesse a partir de 1º de janeiro do ano que vem, aí haveria eleição indireta no prazo de 30 dias. Em qualquer dos casos, o eleito governaria até 31 de dezembro de 2018.
A alternativa, querem alguns, à eleição indireta caso Temer renunciasse no ano que vem seria uma emenda constitucional antecipando eleições. Entendo que isso é vedado pelo Artigo 60 da Constituição — pelo menos seria essa a tendência no Supremo de antigamente, quando todos os ministros respeitavam as leis, né, Marco Aurélio?
A quem interessa minar a confiança no governo Temer? A pesquisa eleitoral feita pelo Datafolha traz algumas pistas, como vamos ver.
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